40 minutos a olhar para Pli
O ComUM passou os 40 minutos do SC Braga/AAUM-Benfica, do último sábado, com os olhos postos em Pli. O guarda-redes é uma referência da equipa bracarense, não só pela intensidade com que vive cada momento do jogo, mas também pelo facto de a sua história se confundir com a do clube.
Pavilhão transformado em arena, espírito guerreiro esticado ao máximo e uma vontade indomável de enfrentar os adversários. Pli deixa a vida de advogado à porta, transfigura-se, deixa-se levar pela adrenalina e prepara-se para a luta. Nos 40 minutos que se seguem, só importa que o SC Braga/AAUM ganhe. Olho por olho, dente por dente.
Os primeiros minutos da partida com o Benfica mostram que o jogo vai ser intenso. Os encarnados costumam ter dificuldades em passar em Braga e a equipa minhota gosta da pressão dos jogos grandes. O primeiro susto de Pli é deixado por Bruno Coelho, aos dois minutos, num remate ao lado. Aos quatro, uma bola rematada por Alan esbarra no poste. E começa a ser preciso intervir para despertar os colegas.
A partir do quarto de hora, a pressão do Benfica torna-se mais forte. Em dois minutos, Pli nega, por três vezes, o golo benfiquista. A última parada faz baixar toda a adrenalina: levanta-se do chão, bate várias vezes com força no peito e acompanha, com gritos, as músicas dos adeptos. Parece, no fundo, o líder da claque – “muitas vezes, quando vamos ver os jogos fora, fico ao lado deles”, admitiria, depois, Pli.
O jogo intenso é propício a faltas. O SC Braga/AAUM comete a sexta a dois minutos do intervalo. Livre direto. Paulo Tavares troca os guarda-redes, confiando em Beto para defender. O remate de Joel Queirós dá golo e Pli regressa. Dentes cerrados, cabeça levantada e um pontapé dado no poste. “Calma”, grita Paulo Tavares. O treinador não quer desconcentrações.
A vinte segundos do intervalo, um erro de Pli dá origem a um ataque do Benfica. A bola acaba por se perder, sem perigo. O guarda-redes respira de alívio e o tempo esgota-se. Pli fica na baliza, demora a sair para o balneário e regressa logo depois, para ajudar no aquecimento de Beto. Na segunda parte, o brasileiro vai jogar – os dois guarda-redes têm dividido a baliza. O sofrimento de Pli passa a ser no banco.
Protestos, incentivos e festejos no final.
O golo do Benfica, a abrir a segunda parte, gela o pavilhão. Pli mantém-se bem vivo: não para, protesta com os árbitros, incentiva os colegas e recrimina atitudes dos adversários. Quando André Machado empata, volta a aumentar a esperança bracarense. Na baliza, Beto está imperial – e Pli festeja as defesas como se fossem suas. Empolgado, o SC Braga marca quatro golos em quatro minutos, entre os 33 e os 37. E, num ápice, faz tombar o Benfica.
Pli está eufórico. Levanta os braços na direção dos adeptos, abraça Paulo Tavares e anseia pelo fim do jogo. O árbitro Marco Gonçalves acaba por lhe dar amarelo. O apito final faz regressar Pli ao centro do campo: cumprimenta os adversários, festeja com os colegas e, principalmente, com Beto. Aos árbitros, um “desculpe lá qualquer coisa”.
SC Braga/AAUM: amor de uma vida.
Quase uma hora depois do jogo, já a frio, Pli admite que sofre mais no banco do que dentro de campo: “Nos últimos quatro minutos, perguntei ao treinador se podia ir embora, porque não consigo… Falta-me a voz, dói-me a cabeça, vivo muito”. Paulo Tavares, o treinador, já conhece Pli há mais de 15 anos e sabe da intensidade com que o guarda-redes vive cada momento.
“O Pli é um excelente atleta, uma excelente pessoa, um excelente guarda-redes. É bom que incentive os colegas e puxe pelos adeptos, mas precisa de se manter equilibrado e concentrado no jogo”, afirma Paulo Tavares. Pelo jogo com o Benfica, percebeu-se que há grande cumplicidade entre os dois e o abraço de Pli a Paulo Tavares, no sexto golo do SC Braga/AAUM, comprova-o.
Apesar de cansado e sem voz, o final do jogo com o Benfica deixa Pli realizado. E pronto para uma nova batalha. Sempre a defender o escudo bracarense. “Ele vive o clube como ninguém… É Braga, Braga, Braga”, diz Paulo Tavares.