peixe:avião apresentaram no passado dia 21 de setembro, no Theatro Circo, o seu novo álbum homónimo. O ComUM falou com Luís Fernandes, membro da banda bracarense, sobre este novo álbum, a evolução e destinos da banda e o panorama musical de Braga.

Uma conversa informal, num banco de jardim, onde se falou de coisas sérias.

Os peixe:avião nascem em 2007 e lançam o primeiro álbum em 2008. Madrugada sai em 2010 e há agora, em 2013, este novo álbum, homónimo. Como é para uma banda crescer a um ritmo tão frenético?

O crescimento rápido provocou no nosso caso algumas dores de crescimento. Aparecemos em 2007 com um EP e muito rapidamente estávamos a fazer um disco. Depois houve um período de dois anos para o Madrugada e no fim sentimos que havia uma certa saturação. Essa saturação levou a que tenhamos decidido parar e repensar, e de certa forma recomeçar, porque o facto de crescer assim tão rápido nem sempre é bom. Mas acho que é o percurso de qualquer banda.

 

Andaram 3 anos a percorrer os palcos do país. Serviu esse tempo para descobrir novos caminhos?

Sim, quando se passa muito tempo a pôr as mesmas ideias à prova repetidamente, isso torna-se um processo saturante, que obriga a das duas uma: ou te fartas mesmo e chateias-te e acaba ali a coisa, que é o que acontece a grande parte das bandas; ou então tens sangue frio para parar, pensar, e buscar um novo rumo para que as coisas se tornem mais saudáveis e mais prazenteiras.

 

valter hugo mãe dizia, a propósito de Madrugada, que “os peixe:avião superam-se no mais caro dos sentidos, isto é, amadurecendo”. Chamam a este novo disco peixe:avião por considerarem ser o que melhor representa a identidade da banda ao fim de seis anos. Estão os peixe:avião na sua fase mais madura?

Sim, quer dizer, quanto mais não seja por ordem cronológica… Mas posso dizer que sim, estamos mais maduros, o que não quer dizer que no Madrugada não estivéssemos. Já éramos uma banda madura. Hoje somos uma banda mais madura, mas apontando noutra direção. Isto porque se calhar passa um bocado a ideia de que até agora estivemos a crescer e que agora é que estabilizamos, e eu acho que não é bem isso. Acho que quando fizemos o Madrugada notou-se uma evolução a nível de maturidade e coesão enquanto banda. E acho que houve o natural desenvolvimento de cinco pessoas que estão a trabalhar há mais tempo e que vão aperfeiçoando a sua forma de trabalhar.

 

Revelaram, em tempos, que eram raras as ocasiões em que se encontravam para compor, e que cada um dos membros fazia “pedacinhos”. Este método criativo mudou?

Mudou. E foi uma das premissas que definimos para este disco, porque sentimos que a forma como compúnhamos nascia mais da ideia individual. Por isso, dávamo-nos ao luxo de ornamentar demasiado os temas, que nessa altura era algo deliberado. Se continuássemos com esse método as coisas sairiam muito na linha do que tínhamos até agora, e nós sabíamos que se mudássemos o método automaticamente as coisas iriam mudar.

 

Consideram-se uma banda experimental?

Não. Acho que nós tentamos trazer elementos dessa área para o domínio da música pop, o que é algo bem diferente do que ser uma banda experimental. Porque bandas experimentais há muitas em Portugal. Bandas muito boas e com reconhecimento mundial até, mas que trabalham numa área totalmente diferente que não o domínio da música pop. Somos uma banda do domínio pop, que é abrangente, mas que tenta incorporar na sua sonoridade elementos mais arriscados e que vêm desses mesmos campos. Mas não inventamos nada…

 

Apresentaram no passado dia 21, no Theatro Circo, este novo disco. Dá-vos um gozo especial fazê-lo na cidade que vos viu nascer?

Sim, claro, ainda para mais sendo o Theatro Circo uma sala lindíssima. Temos feito isso em todos os discos, desde o 40:02, por isso é sempre uma opção óbvia para nós.

 

E como classificam a vida musical bracarense?

Eu acho que Braga tem cada vez mais uma atividade musical muito grande. Há muitas mais bandas do que quando começamos em 2007. Isso talvez tenha sido recorrente do facto de hoje em dia ser mais fácil ter uma banda. Os instrumentos são mais baratos, há mais capacidade para gravar, mais à vontade para dar concertos… É um efeito bola de neve. Para além disso, também tem havido um ressurgimento de bandas em Braga, à semelhança do que houve nos anos 80. Neste momento estamos nós, mas também os Long Way to Alaska, os Smix Smox Smux, agora os Ermo… Há um grupo grande de bandas que tem aparecido e mais pessoas a fazer música, o que eu acho que é de salutar.

 

Sei que são uma banda que usufrui das salas de ensaio criadas no estádio 1º de Maio. O quanto consideram importante este género de apoio às bandas nacionais?

Esse apoio é fundamental. Se não o tivéssemos não digo que não existíssemos, mas seria muito mais complicado manter a atividade. Provavelmente teríamos desistido já. Ter um local de ensaio é muito complicado, e nós temos esse problema totalmente resolvido. Podemos ensaiar a qualquer hora do dia em qualquer dia do ano por um preço muito acessível. Devido a isso é que continuamos a trabalhar de uma forma tão efetiva. Conheço muitos colegas de bandas de outros locais do país em que é um pesadelo ensaiar. É muito custoso, já que ao fim e ao cabo estão a pagar para fazer música, tendo em conta que o que pagam para ensaiar leva-lhes o pouco dinheiro que fazem em concertos. Nesse aspecto somos privilegiados. E isso nota-se no número de bandas que aparecem por cá e que ganham destaque nacional.

 

Em 2010, havia na vossa sala de ensaios uma foto de Mesquita Machado. O jornalista do Ípsilon disse, na altura, fazer lembrar a provocação dos Sex Pistols com a capa do lendário “God Save the Queen”. E agora que Braga perdeu a sua Isabell II?

Temos que trocar a foto, acho eu [risos]. Isso foi uma piada. Eu não o considero uma crítica, aliás nós até podemos agradecer ao ex-presidente da câmara por ter feito as salas de ensaio. Se não fosse ele já não existíamos… Agora nós também quisemos brincar um bocado e ironizar porque, como com todos os políticos, não concordamos com algumas coisas e concordamos com outras. Mas não somos uma banda de se marcar por políticas. Deixamos isso para outras pessoas. Foi mais uma brincadeira.

 

E depois deste álbum, o que podemos esperar dos peixe:avião?

Agora, no imediato, queremos promover o novo álbum com concertos. Queremos que as pessoas o ouçam. É possível ouvi-lo sem pagar. Depois, confesso que ainda não planeamos muito bem o que vamos fazer. Provavelmente gravar uma nova coisa dentro de menos tempo do que o período entre o Madrugada e este disco. Sentimos que ainda há coisas por explorar dentro desta estética que exploramos agora e queremos fazer isso a curto prazo. Depois partimos para outra coisa…