A 29 de Novembro de 1999, a 100ª Página abriu as portas ao público. Surgiu em contraciclo, com um novo conceito e com uma nova filosofia, que perdura há 14 anos. “Temos pessoas que nos acompanham (…) desde o primeiro dia”, afirma a Sócia Gerente e responsável pela área da Comunicação, Maria João Lobato.

Implementada inicialmente na Praça da Faculdade de Filosofia, local onde se manteve até 2005, a livraria comemorou no passado dia 26 de Novembro o seu 14º aniversário. Atualmente, em plena Avenida Central de Braga, num ambiente tranquilo e acolhedor, a 100ª Página é mais do que uma simples livraria. É um local onde se pode entrar, escolher um livro e lê-lo, ou onde se pode tomar algo na cafetaria e desfrutar do jardim da casa. E foi nesta livraria que o ComUM esteve à conversa com a sócia gerente Maria João Lobato.

 

“A livraria sem balcão”

Em 1999, num momento em que as livrarias em Braga estavam a fechar, “muita gente não percebeu porque é que estávamos a abrir. Estávamos a abrir porque o conceito era diferente”, defende Maria João Lobato.

Ao longo destes 14 anos, a Centésima Página tem-se vindo a adaptar às mudanças que têm ocorrido no mercado livreiro. “Quando abrimos não existia a relação que existe hoje em dia com o livro. Não existia toda uma política comercial à volta do livro, nomeadamente em termos de marketing”. Apesar desta diferença, a livraria continua a apostar naquele que foi o seu traço distintivo: “a livraria sem balcão”, procurando “pôr as pessoas com os livros” e fazê-las “sentirem-se à vontade”, criando uma relação diferente entre o cliente e o livro.

Esta relação é particularmente apreciada pelos turistas. Incluída no roteiro da arquitetura barroca da cidade de Braga, pela 100ª Página passam cada vez mais estrangeiros, que se “deslumbram quando chegam aqui“.

Os estrangeiros “são até as pessoas que mais valorizam (…) a forma como se agarrou o formato, os livros, a disposição, (…) a relação que criamos com o cliente”.

 

Há 14 anos a “criar um público leitor”

Procurando “criar eventos à volta do livro para chamar a atenção dele”, a 100ª Página é mais do que uma simples livraria. Com “sessões temáticas, apresentações de livros e conversas” apresenta-se com uma nova forma de estar, criando “um público leitor”, ou seja, dirigindo-se “às crianças”. Para tal, há 14 anos que “animamos as histórias e os contos para a infância”. Maria João Lobato salienta ainda a existência de “miúdos que cresceram connosco”, numa estreita relação com a livraria.

 

14 anos, 14 livros

Como forma de presentear os clientes, ao longo de todo o mês de Novembro, a 100ª Página teve 14 livros com 14% de desconto, numa parceria com a Porto Editora. Para além disto, o dia de aniversário da Centésima foi passado com o escritor Valter Hugo Mãe, que marcou presença na livraria na passada noite de 26 de Novembro. Tudo isto só foi possível devido ao trabalho que tem sido levado a cabo com as editoras. Foi necessário “trabalhar com elas” e convence-las “de que Braga era uma cidade que merecia, também, a atenção dos escritores”.

 

Promover o lazer em tempos de crise

“Tem sido uma crise (…) transversal a todas as classes sociais e, portanto, aqui também se sente essa dificuldade”. Associado a momentos de lazer, o mercado livreiro não é exceção no que toca à quebra no consumo. Para tentar controlar esta situação, Maria João Lobato explica que se tenta aplicar um conjunto de “estratégias (…) de caráter financeiro”. Desta forma, procura-se “controlar compras” e “controlar gastos”, nunca deixando de tentar negociar com as editoras.

Quanto ao futuro, uma das prioridades passa por manter os atuais clientes, lutando por manter “a nossa forma de estar”. Por outro lado, a 100ª Página procura, também, atualizar-se “no sentido de procurar outras formas de divulgação”, como a atual presença nas redes sociais, cativando mais jovens. “Apesar de se dizer que eles não leem”, este acaba por ser “um público cumulativo” que lê nas mais diversas plataformas, como o “telemóvel” ou o ” iPad”.

Neste negócio, no qual “é impossível ter o lucro imediato”, há que “ir mudando”. É um processo constante de adaptação, ao mercado e às novas tendências, sem nunca esquecer aqueles que foram os traços fundadores da Centésima.

 

Daniela Mendes

Rute Pires