Luís Masquete é o candidato pela lista B à presidência da direção da Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM). O estudante de Línguas Aplicadas confessa que é necessária uma “plataforma que reivindique os interesses” dos estudantes minhotos. Em entrevista ao ComUM, o líder da lista, que tem o projeto AGIR como base desta candidatura, aponta algumas falhas ao trabalho realizado pela atual direção.

O que te levou a apresentar a candidatura à direção da AAUM?

Esta candidatura é dinamizada pelo AGIR, movimento que concorre aos órgãos da associação desde 2009. Somos um grupo de intervenção de estudantes da Universidade do Minho (UM), que não vê na atual direção da AAUM uma plataforma que reivindique os interesses de quem representa, numa altura em que muitos são os alunos que perguntam se vale a pena estudar. A minha candidatura surgiu fruto do trabalho que foi sendo desenvolvido nas últimas semanas, não sendo mais do que um porta-voz do movimento em si. Ao contrário da atual direção académica, que tudo faz para afastar os alunos das decisões, no AGIR encontram uma estrutura horizontal, onde todos assumem o mesmo peso de decisão e opinião. Com os sucessivos ataques a que temos sido sujeitos nos últimos anos, com orçamentos de Estado que nos hipotecam a educação, não podemos ser benevolentes perante uma ‘comissão de festas’ camuflada de associação académica, uma direção que esconde ações de protesto, como foi o caso das “quintas-feiras negras”, e cujos cargos lhes garantem um futuro cada vez mais distante daquele que nos colocam à frente.

Qual é a linha orientadora e os objetivos da lista?

Temos princípios bem definidos, dos quais não abdicamos: um ensino público, gratuito, democrático e de qualidade, acessível a todos que queiram obter uma formação superior. Qual o futuro de uma geração que, para além de ter dificuldades em cobrir o atual valor das propinas, vive um clima de insegurança em relação às saídas profissionais que os esperam? Um futuro precário, baseado em recibos-verdes e estágios não remunerados, com muitos recém-licenciados a não terem opção senão imigrar. Por mais que a atual direção da AAUM nos apresente o “empreendedorismo” como solução dos nossos problemas, com o estudante-comum a ter dificuldades em pagar os seus estudos, que meios terá o mesmo estudante para abrir uma empresa? A própria UM é um reflexo dos efeitos da austeridade no ensino, com excessos de alunos por turma a não permitir um normal funcionamento das aulas, com o corte no número de funcionários públicos e a sua substituição por estagiários não remunerados, com a falta de salas de estudos e bibliotecas a funcionar 24h por dia. Contudo, a direção presidida por Carlos Videira mantém a inércia que tem vindo a caraterizar as sucessivas direções da AAUM, sem dar respostas às mais básicas necessidades de uma educação de qualidade. Como se não bastasse, foi aprovado esta semana um Orçamento de Estado que prevê um corte de 4% no financiamento do ensino superior no próximo ano, com as universidades a terem que reduzir 3% da sua massa salarial, vendo-se obrigadas a reduzir os seus quadros. Estamos perante mais um ataque de destruição do ensino superior, pelo que é urgente a formação de uma plataforma que represente os estudantes e os seus direitos, que seja capaz de os mobilizar contra estas políticas que tornam cada vez mais difícil o acesso à educação. A atual direção académica continua sem demonstrar qualquer oposição consequente, quando tem meios suficientes para o fazer.

O que achas que ainda falta fazer na AAUM?

A atual direção da AAUM tem um papel pouco relevante no quotidiano dos alunos. Poucos são aqueles que conhecem os seus dirigentes e que estão a par da sua agenda associativa. As Reuniões Gerais dos Alunos (RGAs) são o instrumento mais democrático que se encontra à disposição dos alunos. Um espaço criado para a participação dos mesmos e onde estes devem ter um papel determinante nas decisões que os afetam enquanto estudantes da UM. No entanto, continuam a ser uma incógnita para os alunos, que são afastados das assembleias por falta de divulgação por parte da associação académica. A atual direção da AAUM faz tudo para afastar os estudantes da estrutura, que dela pouco mais têm conhecimento para além das festas académicas. Obviamente que achamos que a recriação cultural assume um importante papel da vida académica, mas o Enterro da Gata não pode ser o marco mais importante de uma agenda associativa. É necessária uma associação académica que não se limite a organizar eventos de consumo, mas que também promova a criação de espaços de recriação artística e cultural para que os estudantes possam dinamizar as suas capacidades.

Quais são as áreas que merecem uma atenção especial ou uma intervenção urgente?

Para além do combate pela redução das propinas, pelo aumento da atribuição do número de bolsas e dos aspetos recreativo-culturais referidos anteriormente, vemos também na área da integração aspetos que merecem a nossa atenção. Começando pela praxe que, apesar da controvérsia gerada à sua volta, é uma atividade feita por estudantes para estudantes. Nunca seremos a favor da repressão que estas atividades têm sido sujeitas, repudiando a sua proibição por parte da reitoria. Apenas os estudantes devem intervir em aspetos de uma atividade que é sua, o que não exclui a criação de uma plataforma de integração alternativa à mesma. A direção da AAUM tem o papel de representar todos os estudantes e quem optar por não ingressar na praxe deve ter acesso ao mesmo tipo de suporte e informação ao longo de todo o seu percurso académico. Defendemos uma AAUM que represente todos os seus alunos e isto só acontece se esta combater as discriminações, repudiando quaisquer atos de machismo, racismo ou homofobia dentro da comunidade de estudantes através de ações de sensibilização e de denúncia relativos a estes casos que, não sendo de agora, existem diariamente na universidade.

Se a lista B ganhar, qual vai ser o primeiro passo?

Acabar com quaisquer tipos de regalias dos dirigentes será o nosso primeiro passo. Hoje, a direção da AAUM tem ao seu dispor milhares de euros em ajudas de custo de alimentação, transporte, telemóvel e centenas de bilhetes para o Enterro da Gata distribuídos sem critério conhecido. Mais do que isso, muitos dos antigos dirigentes, dos quais a lista A representa uma continuidade, fazem hoje carreira nas estruturas da associação, em partidos que têm destruído o ensino superior ou em empresas que obtêm parcerias da AAUM. Também teremos uma reação imediata de levar a AAUM ao encontro dos estudantes, promovendo a sua participação direta nas decisões da associação para que dela façam parte, não sendo meros consumidores das suas atividades.

Que tipo de relação pretende a lista B estabelecer com o reitor da UM, António Cunha?

Temos um compromisso apenas para com os estudantes. Não faremos oposição a quaisquer entidades sem motivo. Caso haja unidade entre os estudantes e a reitoria sobre causas comuns, iremos promover a convergência. Caso contrário, contará com a nossa total oposição. Por exemplo, quando o reitor António Cunha aprovou a passagem da UM a fundação de direito privado, que levava a uma privatização encapotada, o [movimento] AGIR impulsionou uma plataforma de oposição a esta medida, em conjunto com professores, funcionários e alunos que não fazem parte do AGIR. Isto ao contrário da atual lista A, que chegou a votar a favor da transição.

O que fez de positivo e de negativo o atual presidente, Carlos Videira?

A nossa posição em relação à atual direção da AAUM é conhecida. Os aspetos positivos do anterior mandato foram realizados apenas em prol da manutenção da sua estrutura que, apesar de tudo, ainda é eleita. O AGIR votou a favor da proposta da direção académica em relação às “quintas-feiras negras”, porque propunha a realização de ações de protesto, inclusive, que seriam um primeiro passo para um protesto nacional a realizar-se em novembro. Na prática, a lista A nada fez para além de encobrir as ações referidas, afastando os estudantes que, ainda hoje, não sabem em que se baseavam estas ações. O que podemos concluir é que a lista A aderiu a estes protestos apenas para dizer que os fez, a exemplo dos restantes aspetos positivos. Os negativos estão à vista.