Eleito pelos bracarenses com maioria absoluta, Ricardo Rio é o novo presidente da Câmara Municipal de Braga (CMB), quebrando desta forma o ciclo socialista no poder bracarense com Mesquita Machado. Em entrevista ao ComUM, o atual líder da autarquia bracarense destaca a importância da ligação do município às universidades e a necessidade do investimento nos jovens.

Foi eleito pelos bracarenses no passado dia 29 de Setembro com maioria absoluta. Está surpreendido com o resultado das eleições?

Julgo que, ao longo dos últimos anos, conseguimos conquistar um apoio muito significativo das pessoas, desde logo com o reconhecimento da valia das nossas propostas e reforçado com a simpatia com que as pessoas receberam toda a minha equipa. Além disso, os bracarenses estavam saturados com as práticas e as políticas da anterior gestão municipal e tudo isto somado conduziu ao resultado destas eleições.

O que irá mudar em Braga com Ricardo Rio?

Espero que muita coisa. Queremos alterar a postura da CMB para com os cidadãos e as instituições e desejamos também mobilizar uns e outros para projetos a implementar. Depois, pretendemos levar a cabo alterações muito significativas do ponto de vista da intervenção camarária em questões relacionadas com os apoios sociais, a componente da animação cultural, bem como a ligação às universidades. Estes são eixos que me parecem ter sido mal acarinhados pela anterior gestão e quero agora encetar com uma nova perspetiva para cada uma dessas áreas.

Quais são as primeiras medidas a tomar enquanto presidente da autarquia bracarense?

Há medidas de caráter interno que já tínhamos definido, como a auditoria financeira a todo o universo municipal e temos ainda medidas de caráter mais político e até judicial, como é o caso da revogação que já fiz da expropriação das Convertidas. Há outras medidas de caráter institucional, como a criação de alguns conselhos consultivos para a CMB em áreas como a cultura.

O que espera da auditoria às contas do município?

Espero uma fotografia real e detalhada de toda a situação da CMB e do universo municipal, englobando todas as empresas municipais e outras instituições, como é o caso da Fundação Bracara Augusta. Queremos tentar perceber quais foram as práticas ao longo dos últimos anos e perceber a situação financeira em que nos encontramos.

A piscina olímpica continua parada depois do investimento feito. O que acontecerá ao complexo anexo ao Estádio Municipal de Braga?

Com o arquiteto que projetou a obra, iremos procurar uma solução que nos permita a conclusão do projeto de forma económica no imediato, em termos de investimento, e de forma sustentável, do ponto de vista da manutenção futura, para disponibilizar à população de Braga e a todos os interessados uma piscina olímpica em condições de usufruto por todos. Há um vasto leque de opções, mas o nosso objetivo é concluir a piscina olímpica com base nesses dois princípios: garantir um investimento racional e de manutenção futura.

Qual será a relação estabelecida entre a CMB e as universidades?

A relação entre a CMB e as universidades ao longo dos anos teve sempre um cunho marcadamente formal, havia um relacionamento, mas não era constante e é esse diálogo contínuo que queremos estabelecer. O pelouro de ligação às universidades, entregue a Miguel Bandeira, é fundamental não só para criar esse canal de diálogo, mas também para que se consiga desenvolver projetos conjuntos, tanto no domínio cultural, como da intervenção social e que permitam quer o envolvimento das universidades, quer da própria CMB. É importante esta partilha de espaços que sirvam a todos e há também uma ótica de aproveitamento do conhecimento que é produzido nas universidades e que pode ser vertido para a autarquia.

O que pretende fazer o executivo pela cultura bracarense?

O primeiro passo é criar condições para a revitalização do Theatro Circo, um espaço que consideramos emblemático na nossa cidade e que tem que ser um fator catalisador da atividade cultural envolvente, é o cartão-de-visita da atividade cultural do concelho. Queremos intensificar e reforçar a programação de maneira a que haja mais atividade no Theatro Circo. Há uma grande dinâmica de colaboração entre os agentes culturais, daí que queiramos também criar um conselho cultural em que estejam representados os principais agentes culturais do concelho, os grupos de caráter cultural da Universidade do Minho. Queremos também intensificar a descentralização cultural e afirmar Braga como espaço de acolhimento de grandes eventos de caráter cultural a nível nacional.

No discurso de tomada de posse sublinhou que não desejava que Braga fosse uma “rampa de lançamento” dos jovens para o estrangeiro. Como poderá Braga combater essa fuga?

O principal argumento é que terão aqui oportunidades de acesso ao emprego, que neste momento não têm. É óbvio que a questão da dinamização económica é fundamental e a CMB tem um papel essencial apoiando os projetos de investimento já existentes para que criem mais empregos, dinamizando a atividade turística de maneira a que novas atividades possam ser desenvolvidas, apoiando o empreendedorismo dos jovens de maneira a que, cada um por si, possa ser criador do seu próprio emprego e cabe também à CMB fazer um esforço de atração para Braga de investimentos que bebam também da massa critica saída das universidades de Braga.

Propõe uma atitude participativa à sociedade bracarense. Em que moldes será incentivada?

Há várias formas de o fazer, a mais institucionalizada e já utilizada noutros municípios é o orçamento participativo que, feito de forma séria e responsável, é um instrumento útil graças a esses contributos. Há também uma postura contínua para o diálogo com os agentes e cidadãos que nos permitirão recolher contributos para a melhoria da nossa atuação. Quanto mais conseguirmos envolver os cidadãos nos nossos projetos, mais essa cidadania é enriquecida e mais exigentes serão os cidadãos em relação à câmara e mais próxima será a nossa relação com eles.

De que forma se pode afirmar o Norte no quadro político-económico português?

O primeiro passo para a afirmação e reconquista de algum poder de reivindicação é o diálogo entre as cidades protagonistas do norte, como é o caso de Braga, do Porto, de Viana do Castelo e de outras cidades de média dimensão no Norte. Só trabalhando em conjunto é possível essa afirmação.

Qual a importância da proximidade de Braga à autonomia espanhola da Galiza?

A primeira é económica, porque a Galiza e os galegos foram o principal foco para o turismo bracarense, principalmente com o período áureo em que tínhamos a Bracalândia como instrumento de afirmação do nosso concelho. Temos também outros eventos que os trazem até Braga, como a Semana Santa e a Braga Romana, mas é importante criar um laço mais forte de atratividade e conhecimento com essa população. Deve ser desencadeado um processo de valorização do turismo religioso através da revitalização dos Caminhos de Santiago e, também, do ponto de vista de partilha cultural e de questões ligadas à mobilidade. Há um aprofundamento de relações entre Braga e a Galiza a ser estabelecido nas várias áreas.