Depois da sua atuação nos VMA do ano corrente, outra no iHeart Studio Festival, de terminar o noivado com Liam Hemsworth, aparecer na capa da Rolling Stone (em trajes diminutos), uma sessão fotográfica, com indumentária insólita, por Terry Richardson e, mais recentemente, uma acesa discussão com Sinead O’Connor, a polémica (entenda-se, estratégia de marketing) estava muito bem instalada para o lançamento do LP.

Amor, dinheiro e festa é o mote mais apropriado para associar às 13 faixas que compõem o disco. São dois os momentos que se vão intercalando à medida que se ouvem as músicas. O primeiro é precisamente o amor com “Adore You” (que nos lembra “Stay” de Rihanna), balada melancólica onde se pode verificar o potencial que a voz da norte-americana de 20 anos poderia atingir e ser mais bem aproveitado.

Essa fórmula é repetida em “My Darlin”“Wrecking Ball” (segundo single), “Maybe You’re Right” e “Drive”, sendo que esta última já não se pode considerar uma balada, apesar da desolação amorosa continuar a ser tema. De facto, estas 6 músicas mostram que, no fundo, Miley canta com paixão, sabe fazê-lo e escreve (ou co-escreve) com emoção, não devendo ser necessário cantar sobre um coração partido ou uma história de amor para isso acontecer.

Mas, tal como tem sido demonstrado nos últimos meses, os momentos de festa são mais do que os anteriormente referidos e por isso as restantes faixas distanciam-se bastante, indo do hip-hop – “Love Money Party” e “Do My Thang” – para o pop – “SMS (BANGERZ)” com Britney Spears – passando pelo dubstep – “FU”– constituindo uma panóplia de géneros que, de forma alguma, resultam em algo homogéneo e consistente.

O primeiro single (e segunda faixa), “We Can’t Stop”, resume toda esta parte associada ao dinheiro e festa – deixando, quase, de ser necessário ouvir o resto do álbum para perceber a sua ambiência de tão previsível que é esse padrão. Ao contrário do referido acima, estas músicas são de consumo rápido (leia-se: ficam no ouvido quando não queremos que tal aconteça), vulgares, de “plástico” e, curiosamente, óptimas para uma sessão de twerking (provavelmente é esse o objetivo).

As colaborações pouco trazem ao álbum, levando à conclusão de que estas não passam de uma estratégia de marketing, a par de todas as controvérsias associadas a esta fase da vida da artista. A “marca d’água” auditiva do produtor Mike Will Made It durante as músicas torna-se irritante e desnecessária.

Desde que a “Hannah Montana” foi “assassinada” muita coisa se passou com a atriz, desde Agosto de 2012 para o mês corrente, toda esta transformação foi pensada para culminar na altura do LP; as colaborações com rappers que soam artificiais (eles próprios só lá estão para receber o deles); o à-vontade excessivo que roça o lascivo; todas as suas atitudes são uma divergência muito acentuada do que a atriz representava na sua adolescência, precisamente para exterminar a rapariga que teimava acompanhá-la durante muitos anos. Já vimos isto acontecer com outras estrelas da Disney, portanto não é uma coisa inédita, não sendo por isso uma estratégia propriamente boa, começando até a ficar gasta e a fomentar uma ideia errada do que é a fase adulta às fãs mais nova das artistas que optaram por este caminho.

Bangerz é um disco que transpira a rebelião caraterística do início da fase adulta mas, essa transformação, é forçada e pouco natural. Ouvir o LP é como uma viagem numa montanha russa, não daquelas agradáveis em que sentimos imensa adrenalina, mas onde o resultado é a decisão de não querer mais andar naquele carrossel. No entanto, uma coisa é certa: Miley já não é nenhuma criança e ela fez questão de ter a certeza que o mundo ficava a saber disso.