Os bracarenses Ermo, com o recente álbum “Vem por aqui”, pretendem indicar a “direção”, retratando um “Portugal degradado”. Para conhecer mais acerca do trabalho da banda, o ComUM esteve à conversa com António Costa, um dos seus elementos. 

 

Os Ermo foram formados em 2011, passados apenas dois anos estão a lançar um álbum pela Optimus Discos e acabaram de anunciar uma tour europeia. Como aconteceu esta rápida ascenção?  

Nós lançamos o EP no ano passado, na altura era eu a fazer promoção e lá consegui fazer uma coisa ou outra, mexer uns cordelinhos. Acabou por surgir um convite pela Optimus Discos também porque a nossa música já estava a passar na Antena 3 e um locutor de lá e diretor artístico da Optimus Discos, que é o Henrique Amaro, mostrou interesse por nós. No que toca à tour europeia, foi o nosso manager, que é um organizador de concertos de Braga e também o fundador do festival Barroselas Metal Fest, que achou oportuno fazermos a tour.

 

Os vossos temas focam-se essencialmente no nosso país. Como consideram que o público vai reagir durante a tour europeia a temas tão portugueses?

Estou com esperança que achem isso esquisito ou exótico. Acho que a resposta a essa pergunta é só mais tarde, agora não faço mesmo ideia .

 

Mas quanto às vossas expectativas?

As expectativas são boas. É mais pela experiência de fazer a tour, do que pela própria música em si. Nós somos muito putos, gostamos de fazer isso pela experiência, porque é divertido. Se isto correr bem, voltaremos a fazer algo mais sério pelos países nórdicos no próximo verão.

 

A palavra “ermo” tem o significado de solidão ou retiro. É também com essa atmosfera, algo desviada do mundo, que compõem as vossas músicas?

“Ermo” não é solidão nem retiro. Um lugar ermo é um local onde não existe ninguém. Talvez tenha também esse significado, mas não foi por aí que pegamos. Como um lugar ermo é um local onde não tem ninguém, era esse o objetivo e posicionamento que nós queríamos ter na música portuguesa: queríamos fazer a música que ninguém está a fazer. Portanto, é um projeto com a premissa de ser original logo de início.

 

O que mudou neste novo álbum “Vem por aqui”?

O EP foi gravado com condições mesmo precárias e na altura o suporte eletrónico era quase nulo, aliás, era nulo na altura. Então basicamente é essa evolução. Mas também em termos concetuais, pois o EP é um trabalho concetual à volta do Quinto Império, enquanto que este é o retratar de um Portugal degradado. Portanto, evolui não só em sonoridade, mas também em termos de conceito.

 

Foi dito por um membro da banda ao jornal Ípsilon que “o fulcral em Ermo são as ideias que queremos transmitir e não a música em si”. Visto que para vocês a mensagem é importante, que força é essa que vos motiva para escrever?

Não é propriamente uma força. Acho que toda a gente tem conceitos que gosta de transmitir, e todos fazemos isso em conversas, quando estamos a discutir algum assunto queremos sempre dar a nossa opinião. O que eu quis dizer aí era que nós não somos músicos por premissa, nós somos música por acaso. Simplesmente queremos transmitir ideias e a música foi a maneira mais divertida de o fazer.

 

Existe alguma banda ou artista que vos inspira? 

Existem bastantes. Mas nunca gosto de falar de influências, porque nunca dá para perceber o que é que vem de onde. Posso estar a dizer que gosto disto ou daquilo, e influencia-me de uma maneira ou de outra, só que estás a ouvir um artista e não pensas: este foi buscar isto aqui, aquilo acolá. Mas sim, temos as influências da música portuguesa pós-25 de abril e da pop atual.

 

Na capa do vosso álbum veem-se várias figuras como José Saramago, Almada Negreiros, Fernando Pessoa, entre outras. Qual é o significado dessas personalidades para a banda?

Aquilo tudo é um pouco a imagem do imaginário português, que é um caminho que quisemos representar na capa. Mas também é um pouco do nosso imaginário, e daí também o nome do álbum “Vem por aqui”, porque não é uma direção geral que estamos a dar, mas sim a nossa direção. Portanto, é o nosso imaginário e o imaginário português.

 

Tendo em conta o teu envolvimento na cena musical da cidade, consideras que Braga é terreno fértil para o aparecimento e crescimento de bandas?

É, mas já foi mais. Nos anos 80, Braga era a zona fértil, como agora olhamos para Barcelos e vemos as bandas todas a surgir de lá. Nos anos 80, Braga era mais que Barcelos. Mas isso melhorará.

 

Como aluno da Universidade do Minho, como avalias a intervenção da universidade a nível cultural?

É nula. Eu tenho umas quantas intervenções a nível da Escola de Música que está associada à UM, mas em termos de eventos culturais eu acho que é nula. Pelo menos no que me toca a mim, nunca me surgiu nada. Aliás, é a primeira entrevista por parte da UM que estou a ter.

 

Na passada semana deram um concerto de apresentação do disco no TOCA, em Braga. Como foi esse regresso a casa? 

Foi porreiro, não foi nada de especial. Foi porreiro porque era em Braga, mas isso ao mesmo tempo acarreta problemas que há sempre em Braga. Braga não suporta bem concertos. Vais para fora ver um concerto e não ouves ninguém a falar, as pessoas respeitam, cá não acontece tanto isso. Mas melhora também com o tempo, acho eu.

 

Estamos com o ano de 2014 à porta. Quem são as tuas apostas, no panorama musical, para este novo ano?

Sensible Soccers. Neste momento é a melhor banda em Portugal.

 

O que podemos esperar de Ermo nos próximos tempos?

Queremos lançar um EP no próximo ano e trabalhar num álbum bastante grande para final de 2015 ou 2016. Vai ser um tempo muito parado, para já.

 

De que maneira pretendes, no futuro, conjugar, ou não, o teu curso e a carreira musical?

Gostava de seguir uma carreira paralela à música. Como ando a estudar Ciências da Comunicação acabo por ter algumas bases de promoção e de publicidade. Assim, gostava de trabalhar na promoção musical. Mas também o curso não me oferece bases nenhumas e não é bem a melhor coisa. É óbvio que se puder faço isso, é o sonho de qualquer pessoa que trabalha na música, mas não vejo isso a acontecer, sinceramente.

 

Pedro Gonçalo Costa

Raquel Luz