Todos os anos, desde 2001, o Google divulga a lista dos termos mais pesquisados no seu popular motor de busca. Numa altura em que já são cliché os balanços sobre o ano que termina, não ficamos indiferentes aos resultados para Portugal do Google Zeitgeist 2013. Sobre o que é os portugueses mais quiseram saber este ano no panorama cultural? O que é que andamos a querer saber mais sobre os programas de TV? E sobre os filmes que estão a estrear nas salas de cinema? E que música andamos a ouvir? Que artistas mais movem cursores e teclados no google.pt?

Quando falamos de cinema, parece que o que continua a atrair os portugueses são os grandes sucessos de bilheteira fabricados em Hollywood. No pódio dos filmes mais pesquisados este ano surge o “Velocidade Furiosa 6”, que atingiu o pico de interesse dos internautas em Maio, mês em que chegou às salas de cinema, mas que viu esse interesse renovado em inícios de Dezembro, depois da morte de Paul Walker. E se a velocidade atirou os portugueses para a barra de pesquisa, o segundo lugar fica reservado aos biquinis de Faith (Selena Gomez), Candy (Vanessa Hudgens), Brit (Asgley Benson) e Cotty (Rachel Korine) em “Spring Breakers”.

O destaque fica, no entanto, para o quinto filme mas pesquisado pelos portugueses no Google. “A Gaiola Dourada” – o filme que levou as famílias portuguesas novamente ao cinema – colocou a portugalidade na moda e fez os portugueses verter umas lágrimas; os mais velhos por se verem tão bem representados na história de Maria e José, os mais novos por verem na emigração cada vez uma possibilidade mais plausível e, pelos vistos, recomendável pelo primeiro-ministro.

Não será preciso dizer que os termos mais associados aos 10 filmes mais pesquisados são “download” e “torrent”, o que acaba por ser revelador de uma realidade internacional com contornos nacionais. Com a possibilidade de obter qualquer filme de forma ilegal na internet, auxiliada também pelo fecho de salas de cinema no nosso país, a forma como vemos cinema mudou drasticamente. Hoje o filme é para ver em ecrã pequeno, com má qualidade, mas de graça. Aguardam-se por cá soluções como a Netflix. Enquanto não chega, o Wareztuga e outros serviços de filmes ilegais online parecem ser a solução preferida da maior parte dos internautas.

Já sobre o que os portugueses querem saber sobre televisão, não há surpresa alguma: continuamos a gostar muito de reality shows e telenovelas. O primeiro lugar dos programas mais pesquisados vai para a “Casa dos Segredos”, o popular reality show da TVI, fazendo-se seguir pelo “Big Brother”, seu antecessor. Os portugueses queriam saber, acima de tudo, quem eram aquelas pessoas que acompanhavam diariamente enclausurados nas casas, já que os nomes dos programas surgiam constantemente associados aos nomes dos participantes. Talvez tenha sido a dica de Edward Snowden que tenha levado os portugueses a fazer isto.

O resto do top dos termos mais pesquisados este ano são novelas: “Dancing Days”, “Avenida Brasil”, “Amor Doce” ou “Destinos Cruzados”. Parece que até às revistas cor de rosa a internet está a destruir o modelo de negócio.

Dada a parca diversidade de géneros de programas que figuram nesta lista, parece-me importante perguntar se são estes resultados fruto da falta de diversidade da televisão portuguesa ou são precisamente mais um atestado de competência à televisão portuguesa por oferecer aquilo que os portugueses querem ver. E sobre o serviço público, que se vê ameaçado com os cortes orçamentais a cada ano que passa, estará o seu papel a fazer-se cumprir ao não surgir nas preferências de pesquisa dos portugueses?

O mundo da música não foi esquecido pelo Google e tivemos direito a duas listas de mais pesquisados: músicas e artistas musicais.

O ano começou ainda com o grande interesse em Psy e o seu “Gangnam Style”, mas a velocidade da internet tem destas coisas e já em fevereiro andávamos a tentar saber o que era o “Harlem Shake.” Por julho, isso já estava tudo fora de moda: quisemos saber qual era a letra da música “Let Her Go” dos The Passenger e cantarolar em frente ao Google o sucesso dos Daft Punk, “Get Lucky”, antes de ir até à praia. Queríamos, grande parte das vezes, saber estas letras, mas a palavra “download” foi a que mais surgiu perto do nome das músicas. Porque também o consumo de música mudou. Queremos cada vez mais uma só música, em vez do álbum todo, e queremos de graça, claro.

Sobre os artistas, as preferências vão para os rapazes dos One Direction e para Justin Bieber, que parecem continuar a mover cliques atrás de cliques (provavelmente no Google imagens). Mas apesar de serem os rapazes com maior número de pesquisas, o destaque tem que ir necessariamente para Miley Cyrus. A artista que nos habituou a surgir nos ecrãs como Hannah Montana na série da Disney cresceu, e quis mostrar isso ao mundo. Cortou o cabelo, desenvolveu uma estranha filia por martelos, e percebeu o quão bem o bizarro funciona na internet. Com a actuação no MTV’s Video Music Awards e com o seu videoclip provocador, a bomba rebentou nas redes sociais. Com os portugueses não foi excepção. Fomos a correr para a barra de pesquisa saber do que é que estavam todos a falam em inícios de setembro. E Miley, que via o seu nome “googlado” poucas vezes, viu a sua popularidade crescer de forma assustadora. Um sinal dos tempos em que uma boa polémica pode relançar um nome no panorama musical e vender discos, numa altura em que já nem discos parecem ser vendidos.

Vale, no entanto, ressalvar que são poucas as conclusões que se podem tirar destes dados. Primeiro porque, apesar do constante crescimento de utilizadores, ainda só 63,3% da população portuguesa acede à internet. Depois, porque nem todos utilizam o motor de busca do Google para saber informações sobre os filmes, artistas, programas de televisão ou músicas que estão no seu leque de interesses. Para além disso algumas áreas culturais são deixadas de lado nestes resultados apresentados pelo Google. E sobre livros? O que procuram os portugueses no Google sobre literatura? E será que estes resultados seriam diferentes das listas dos livros mais vendidos pelas grandes cadeias de distribuição livreira?

No entanto, e apesar destas limitações, não deixam de ser dados reveladores sobre o que moveu ratos e corações em Portugal. Se não fosse injusta uma generalização, podíamos dizer que somos um país que não parece muito diversificado no ponto de vista de consumo de produtos culturais. Gostamos de blockbusters, reality shows e artistas pop, preferencialmente se a palavra polémica estiver associada. Mas, quando falamos de números, as minorias são sempre esquecidas. Espero, por isso, que este retrato seja demasiado infiel quanto àquilo que os portugueses andam a ver e ouvir.

Mas tudo isto foi um ano, e nem sequer tivemos bem noção que o foi. E para o ano? O que é que andarão os portugueses a pesquisar?