Partilhar e ajudar os outros é para muitos um lema de vida. E por esta altura, a poucos dias do Natal, o espírito solidário intensifica-se, multiplicando-se as campanhas de solidariedade, assim como o número de voluntários em missão. Na passada quinta-feira, dia 5 de dezembro, comemorou-se o Dia do Voluntariado, e o comUM descobriu três estudantes da Universidade do Minho que despendem algum do seu tempo com a  prestação de serviços voluntários. São jovens universitárias que conciliam os encargos académicos com o prazer de ajudar. No voluntariado encontram uma forma de realização pessoal e de contacto com a realidade atual. 

Nilce Peixoto, estudante de Línguas Aplicadas, reconhece que sempre teve uma grande vontade “de ajudar a humanidade”. E foi numa ida ao Banco Alimentar que percebeu que era possível mudar a realidade de quem mais precisa. O Banco Alimentar é uma instituição de caridade que tem como missão lutar contra o desperdício e mobilizar as pessoas a doarem comida aos mais necessitados. Só no ano passado, conseguiu apoiar 400 mil pessoas vulneráveis e em condições de pobreza.

“Já faço voluntariado há três anos”, confessa a jovem, orgulhosa. Em paralelo, também é socorrista da Cruz Vermelha: “Quando saio de casa, sabendo que vou prestar serviço ao próximo, fico radiante e com vontade de não regressar”.

Nilce sonha fazer “voluntariado internacional”, para poder estar em contacto com várias culturas, ao mesmo tempo que ajuda os outros. É um desejo que tenciona cumprir no futuro, e do qual recusa abdicar. A aventura de ajudar o outro mudou-lhe a personalidade: “Quando temos o primeiro contacto com o voluntariado sentimo-nos pessoas completamente diferentes”. Mas as mudanças não ficaram por aqui: “Aprendi a ver a realidade de forma diferente, a ter noção das dificuldades que muitas famílias portuguesas têm e o quão importante é ajudar”.

Também Ana Luísa Alves, estudante do último ano de Ciências da Comunicação, é voluntária no Banco Alimentar, desde 2009. “Comecei com o meu grupo de escuteiros”, relembra. A jovem voluntária já passou por várias etapas do projeto, desde os processos de recolha até à separação de alimentos nos armazéns, onde atualmente se encontra.

“Há uma gratificação pessoal muito grande em fazer parte deste tipo de projetos. Pertenço ao Banco Alimentar porque confio na instituição e sei que, deste modo, transformo um par de horas do fim-de-semana em tempo útil para muitas famílias que passam o ano à espera dos dias das recolhas para poderem respirar de alívio por ter o que pôr na mesa”, confessa, esperançosa, Ana Luísa.

Apesar das horas de trabalho a favor dos outros, Ana Luísa não se sente “extremamente solidária, bondosa ou espetacular”. “Todos somos convidados a ajudar alguém de algum modo, seja pelo Banco Alimentar ou outra entidade qualquer, e tenho a certeza que nunca encontraremos motivos válidos e em número suficiente para recusar”, justifica a jovem universitária.

Apesar das nódoas negras provocadas pelos pacotes de arroz e pelas latas de salsichas em voos de alta velocidade, Ana Luísa confessa que todas estas dificuldades se tornam insignificantes, quando comparadas com as de todas as pessoas que dependem do Banco Alimentar.

Quando olha para o futuro, imagina-se a seguir o voluntariado. E mesmo não sabendo da existência de um dia (5 de dezembro) dedicado a esta causa, Ana Luísa considera que é importante reconhecer esta atividade que “dá tanto e custa tão pouco”.

Marlene Rodrigues é, igualmente, aluna do último ano de Ciências da Comunicação, e é também voluntária, mas numa instituição diferente: a Cruz Vermelha (CV). “A oportunidade surgiu quando abriu um novo curso na minha zona, e como sempre tive um certo gosto por emergência médica e socorrismo decidi apostar”, conta a jovem de Viana do Castelo.

Mas nem sempre foi na Cruz Vermelha que prestou serviços como voluntária: “No âmbito da disciplina de área de projeto no 12ºano, e uma vez que era o ano europeu do voluntariado, fiz serviço voluntário numa instituição de apoio a rapazes que são retirados aos pais”, a “Casa dos Rapazes”.

“O voluntariado numa instituição como a Casa dos Rapazes é, sem dúvida, totalmente diferente do que se faz na Cruz Vermelha. Lá [na Casa dos Rapazes] lidamos com pessoas com dificuldades, muitas dificuldades. Mais do que isso, lidamos com crianças que foram abandonadas ou que foram retiradas aos pais. São situações muito complicadas, que mexem com sentimentos muito fortes”, partilha Marlene Rodrigues, lembrando que apesar das emoções, procurou estar sempre sorridente, de maneira a transmitir alguma felicidade às crianças com que lidou.

Independentemente da instituição de voluntariado em que se participa, Marlene acredita que a gratificação pessoal é igualmente forte. “A sensação de poder salvar vidas é a melhor sensação que se pode sentir. Não só pela sensação, mas também pela realização pessoal e pela utilidade que tem saber atuar em situações de emergência”, acredita a jovem.

Marlene admite que sempre se interessou pelo voluntariado, fazendo já parte da sua vida: “Como sempre estive ligada a projetos semelhantes, o interesse foi crescendo. É uma coisa da qual me orgulho e sem a qual já não sei viver”.

Apesar da crise financeira, Marlene considera que também vivemos uma forte crise de valores. A entreajuda e a solidariedade “são valores cada vez mais necessários numa época em que há um número elevado de pessoas a precisar de ajuda”. Esta difícil realidade fez com que a jovem aprendesse a valorizar mais as coisas que tem. “Ganhei sensibilidade, espirito de ajuda e o mais importante foi ter ganho muita humildade”, reconhece Marlene Rodrigues.

Embora pertença à equipa de voluntários da Cruz Vermelha há pouco tempo, a jovem universitária pretende prosseguir a sua missão ao longo da sua vida. A possibilidade de salvar vidas é algo que a “preenche profundamente ”, e da qual não quer abdicar. “Acho que uma pessoa depois de experimentar o voluntariado, e depois de sentir que ajudou alguém a ficar melhor, não quer outra coisa. É uma realização inexplicável”, partilha Marlene Rodrigues.

 

AAUM: “Temos o projeto VoluntariUM”

Atenta à importância do voluntariado, a Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM) delega esta missão ao Departamento Social. Atualmente, esta secção da AAUM está a desenvolver o projeto VoluntariUM. O principal objetivo é “promover o voluntariado junto da comunidade académica, divulgando as várias ofertas de trabalho voluntário”, que chegam à associação, fazendo, assim, a ponte entre instituições e estudantes interessados, esclarece o presidente da AAUM, Carlos Videira.

“Aquando da organização de competições desportivas, também desenvolvemos um programa de recrutamento de voluntários para acompanhar estes eventos”, exemplifica Carlos Videira, apontando o caso do Campeonato Mundial Universitário de Andebol de 2014, para o qual estão previstos 200 voluntários.

Para o presidente da AAUM, os estudantes acreditam que a sua participação neste tipo de projetos “diferencia o seu curriculum e é uma mais-valia na entrada para o mercado de trabalho. Além do mais, têm a oportunidade de se envolver em causas e projetos que criam valor e mudam a realidade para melhor”.

Para além da defesa dos legítimos interesses dos estudantes, Carlos Videira reconhece que uma das missões da AAUM deve ser “a afirmação do papel dos estudantes na construção de uma sociedade melhor”, e o voluntariado “é um dos mecanismos mais importantes para essa afirmação”.

 “O nosso trabalho para com estudantes em situações mais desfavoráveis foca-se sobretudo no processo do Fundo Social de Emergência”. Porém, a AAUM, em especial o Departamento Social, tem vindo a fazer algumas campanhas de recolha de alimentos e vestuário em colaboração com os Serviços de Ação Social, nos quais procuram “mobilizar toda a comunidade académica”.

A AAUM estabeleceu, já há algum tempo, uma parceria com determinadas instituições sociais, como a Cruz Vermelha de Braga, a Cáritas, a Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadãos Deficiente Mental (APPACDM), e a Associação de Apoio aos Deficientes Visuais do Distrito de Braga (AADVDB).