Que papel cabe ao online?
A emergência e o desenvolvimento dos formatos online e a crise dos média tradicionais têm sido alvo de atenção por parte dos interessados na área. Este é um assunto muito debatido – é certo – mas há, ainda, alguns aspetos que merecem reflexão, não fosse o ComUM um jornal online. A qualidade do que se vê na internet e o aproveitamento dos seus trunfos por parte dos média, por exemplo, são alguns dos pontos que devem ser discutidos no mundo do jornalismo.
É irrefutável a pertinência e as potencialidades do online e a importância que têm hoje os formatos digitais na vida de cada um (quem não acede hoje à informação digital?). Um simples smartphone pode ser a porta de entrada para um sem fim de conteúdos. Ler o jornal no telemóvel faz parte do quotidiano dos ‘digitalmente mais dependentes’ e é algo que muitos já não dispensam.
Mas, em simultâneo com este boom digital, surgem as dificuldades no tradicional. Uma queda notável na venda dos jornais traduz uma crise (quase) insustentável no mercado mediático tradicional e transporta as culpas para o já ‘costas-largas’ online. Conteúdos gratuitos e facilidade de acesso fazem triunfar o novo face ao tradicional, é verdade. Mas não se culpe unicamente o online. A falta de interesse, de dinheiro e de tempo dos consumidores e a incapacidade dos média em se ajustarem às necessidades atuais tendem a, cada vez mais, queimar o papel.
Ao mesmo tempo que se discute a crise nos média tradicionais, surgem debates que menosprezam a pertinência do online. A sua qualidade é posta em causa. É acusada de superficialidade. De vítima da urgência de informação.
Porém, não se pode acreditar que o que se vê no telemóvel ou no computador é menos fiável do que o que se vê no papel. Caso contrário, as ‘verdades’ jornalísticas eram postas em causa e o jornalismo deixava de o ser. Jornalismo é jornalismo, no computador ou no papel. E a desculpa da ‘urgência de informação’ não pode, de todo, prejudicar o ciberjornalismo e considerá-lo menos verdadeiro. Os princípios da atividade – como o da verdade e o da verificação – devem ser iguais em todos os formatos.
Este debate é, portanto, cruel e injusto. Primeiro, porque esquece as potencialidades do online. Depois, porque esquece que, grande parte das vezes, o que está online é o que está no papel. E aqui encontramos um problema. Se o papel quer continuar a vender, tem de mostrar trunfos. E, se o online quer distinguir-se, tem de ser diferente… apostando nos seus trunfos. Uns trunfos que são, ainda hoje, pouco aproveitados.
Pensar o online como um simples suporte cujo conteúdo é igual ao que está no papel não é a solução. Numa altura em que se nota uma queda considerável na venda de jornais, é pertinente mudar. E mudar tem de significar inovar. Não é mudar os objetivos do jornalismo, porque esses são imutáveis. É mudar a forma como se faz o jornalismo. Atrair não significa mostrar polémica. Não pode, aliás. Há outras formas. Tem de haver e têm de ser encontradas.
Em tempos de crise – em todo o lado –, aproveitar os recursos existentes no mundo digital é o maior trunfo. No jornalismo, ainda mais. Há a necessidade de reinvenção, de mudança e de atração. E seguir os mesmos modelos em formatos completamente diferentes não é solução.