Viagem ao Cineclube de Guimarães: “Os Cineclubes não vivem pendurados no Estado”
Atualmente, em Portugal existem 32 Cineclubes que têm como função preservar a arte cinematográfica. Destacando-se das salas de cinema comerciais, estas organizações (sobre)vivem com as quotas dos sócios, a dedicação dos membros e os poucos apoios que o Estado fornece: “Os cineclubes não vivem pendurados no Estado” defende o Presidente da Direção do Cineclube de Guimarães, Carlos Mesquita. Uma realidade que ocorre na Cidade Berço e que é comum a outras instituições em Portugal.
Há 55 anos a preservar a memória do cinema
Preservar a arte cinematográfica é o objetivo do Cineclube de Guimarães, em funções desde 1958. Desde o seu aparecimento, o Cineclube vive “das quotas dos seus associados” e da “dedicação das pessoas que gostam disto e que se dedicam a isto” em paralelo com a sua atividade profissional, afirma Carlos Mesquita. No entanto, pontualmente, é possível receber “um subsídio camarário” para algumas iniciativas.
Segundo o Presidente da Direção do Cineclube de Guimarães, esta instituição tem como função divulgar filmes que “normalmente não têm lugar nas salas”, cumprindo “uma função que as salas comerciais nunca cumpriram ou deixaram de cumprir”. As salas de cinema projetam os filmes e “acabam por se livrar das cópias. (…) Se isso fosse aplicado às artes em geral, imagine-se o que é que acontecia à literatura, à pintura, à fotografia ou à música”. Esta realidade coloca em causa a preservação da arte cinematográfica e, para Carlos Mesquita, reflete “uma lógica de puro consumo descartável que é a negação da própria cultura”.
Tendo como função olhar para o cinema português de qualidade, a atividade do Cineclube não se limita, no entanto, ao cinema nacional. Apostar na diversidade é também uma das estratégias da instituição, contemplando “o cinema português e o cinema europeu”, mas também a “cinematografia oriental e brasileira”. Este é, para Carlos Mesquita, um dos traços distintivos em relação às salas comerciais: “O que nós fazemos é estar atento aos novos movimentos. Uma sala de cinema não tem essas preocupações e passa o que as distribuidoras têm”.
Atualmente, o Cineclube de Guimarães apresenta um ciclo de cinema intitulado “O Futuro do Passado” que se iniciou em Janeiro deste ano e que se prolonga até Março, numa parceria entre o Cineclube e “A Oficina”. Este ciclo baseia-se na projeção dos melhores filmes de ficção científica das décadas de 70, 80 e 90. Embora sejam considerados filmes de ficção científica, estes não têm, muitas vezes, “nada de ciência. São meramente especulativos. (…) O que programamos foi uma série de filmes diferentes na forma, no estilo e nos autores”, afirma o Presidente da Direção do Cineclube.
Desde Janeiro deste ano assistem a cada sessão “60 a 70 pessoas”, acabando este público por ser “mais fiel e mais cinéfilo” do que o que se dirige às salas comerciais, defende Carlos Mesquita.
O cinema em Portugal
O cinema português ganhou, recentemente, um novo fôlego com a produção luso-francesa “A Gaiola Dourada” que atingiu mais de 700 mil espectadores em Portugal, acabando por ser o filme mais visto nas salas de cinema. Na opinião de Carlos Mesquita, “para além da sua popularidade, o filme tinha qualidade. (…) Era um filme que tinha algo de genuíno na forma como representava os portugueses. Não era caricatural”.
No entanto, tem-se verificado uma diminuição no número de espectadores de cinema o que está, em grande parte, relacionado com a crise. No entanto, Carlos Mesquita defende que há outro fator a ter em conta: “as pessoas descarregam filmes diretamente da internet”, acabando por ver o filme no próprio computador.
A crise, a falta de verbas e as novas tecnologias são alguns dos motivos para a atual situação dos Cineclubes em Portugal. Estas instituições procuram, em cada filme, manter viva a imaginação dos espectadores, até porque, como dizia Charlie Chaplin: “Num filme o que importa não é a realidade, mas o que dela possa extrair a imaginação”.