WRC Fafe Rally Sprint: uma paixão dentro e fora da pista
Falar de rali no nosso país é, obrigatoriamente, falar da peregrinação ao troço da Lameirinha, em Fafe. Depois de uma década de ausência, a cidade minhota recebeu este sábado, 29 de março, pela terceira vez consecutiva, o ‘aperitivo’ para o Rali de Portugal, com o WRC Rally Sprint. Numa romaria invulgar, milhares de pessoas enchem as quatro ‘Zonas Espetáculo’ da classificativa – Monte do Marco, Salto da Pereira e as históricas passagens no Confurco e no Salto da Pedra Sentada.
Tudo é planeado com semanas de antecedência. É fundamental assegurar todas as condições de segurança. Sim, de segurança – uma das lacunas que tirou a prova portuguesa do WRC. Ao longo dos 6,34km do mítico troço, outrora do Rally de Portugal, as redes de proteção são colocadas com uma distância mínima para todos os espetadores e as travessias são delineadas em zonas específicas.
O rali passa-se na estrada, é certo. Mas nada seria igual sem o público. Todos querem ter a visão mais ampla e espetacular dos pilotos. Há quem chegue a ‘reservar’ lugar várias semanas antes. De vários pontos do globo, os fãs chegam a toda a velocidade em busca de ter, não o melhor tempo, mas o melhor lugar. De espanhóis a finlandeses, passando por franceses ou brasileiros. “Tanto eu como muitos outros viemos para cá ontem, mas deixamos as tendas na quarta e muitos também vêm de Espanha passar duas ou três noites aqui”, refere o jovem Marco Silva, que presenciou todas as edições do WRC Fafe Rally Sprint.
Mas há razões que expliquem esta paixão? Para Miguel Antunes, natural de Fafe e com presença assídua na prova, “tudo começou na classificativa da Lagoa, ainda antes de 1966. Como não havia mais nenhuma atração em Fafe, as pessoas aderiam em massa à festa do rali”. O fafense refere que na década de 80 já se realizavam testes nas férias da páscoa. “Eu, os meus amigos e muitas outras pessoas passávamos as férias a ver os testes das várias marcas”. Miguel refere ainda que as características naturais e únicas do rali de Fafe apaixonam os pilotos que a fazem pela primeira vez. “O Confurco, os dois saltos e a quantidade de pessoas que se vê chama a atenção e pessoas de outros locais, inclusive estrangeiros”, sublinha.
Os adeptos montam as tendas e tudo o que proporcione uma boa estadia. Televisões, fogão, mesas, colunas de som. Durante a noite, um som já característico e habitual – a motosserra a cortar lenha para a fogueira. E, claro, não pode faltar que comer e beber. Por momentos, parece uma mudança de casa – tudo preenche a bagagem. Na beira da estrada, são cada vez mais os veículos. A multidão chega a pé – torna-se impossível chegar de outra forma ao troço. A EN 206 é alvo de uma autêntica peregrinação.
A noite, madrugada e o amanhecer fazem chegar cada vez mais pessoas, dos oito aos 80 anos. Não há lugar a descanso para os quase 140 mil que querem ver a poeira a levantar. Ao início da tarde, tudo a postos. Travessias fechadas, segurança apertada, percurso avaliado pela última vez e aí estão os pilotos em ação. O público manifesta-se. É o auge com a exibição dos melhores do mundo. Uma, duas, três passagens de excelência pela Lameirinha.
Com o final da prova, ganha por Sebástien Ogier, é tempo de desmontar a ‘casa’. Depois do espetáculo, os fãs enfrentam o cansaço e o tempo de viagem. Mas sabem que valeu a pena e partilham uma só vontade, expressa na voz do cabeceirense Manuel Nogueira: “é preciso apelar a toda a organização, o rali tem de voltar, é a nossa grande esperança”.
Em 2014, foi assim. Um grande espetáculo, dentro e fora da pista. Ao útil dos pilotos, juntou-se o agradável da paixão do público. Daqui a um ano, resta saber se há mais (e melhor). No ar, a poeira – e a vontade de que o Rali de Portugal volte, em 2015, à ‘Catedral dos Ralis’.
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Reportagem: Ricardo Castro | Fotos: Sara Marilda