Na passada segunda-feira, o Conselho de Redação da Antena 1 demitiu-se em bloco. Um protesto contra a forma como as emissões de madrugada passariam a ser conduzidas – por uma máquina. Uma máquina eficiente, que passa as playlists sem qualquer erro e que não lança nada fora do sitio. Uma rádio “limpinha limpinha”, sem imperfeições. Um sonho.

Mas a RDP não é a primeira a dar emprego às máquinas, essas coisas fantásticas. O The Guardian, famoso título britânico sempre reconhecido pelo jornalismo de referência, vai bem mais à frente do que uma rádio sem locutores. Todos os meses publica o #Open001, um jornal que dispensa um editor e faz uso de um algoritmo que, com base no conteúdo mais partilhado nas redes sociais, define a hierarquia da informação daquela edição (quais critérios de noticiabilidade qual quê. O que dá no facebook é que é importante e mais nada).

O caso mais berrante será, provavelmente, o do LA Times que, em março deste ano, conseguiu ser o primeiro dos primeiros a noticiar um terramoto que acabara de acontecer (e todos sabemos como é importante hoje em dia ser o primeiro dos primeiros). Como é que o fez? Através de um algoritmo desenvolvido por Ken Schwencke que gera uma notícia em micro segundos sempre que um terramoto ocorre. Bem dita a máquina perfeita que é bem mais rápida do que o jovem estagiário que nem nas teclas acerta com a pressão.

São todos exemplos da perfeição das máquinas em detrimento dessa coisa imperfeita que é o Homem. Bem mais eficientes do que aqueles preguiçosos jornalistas que, achando-se artistas da informação, perdem tempo a escolher as palavras certas e a dar um toque humano às notícias. Notícias sobre humanos. Que coisa ridícula.

O ComUM, um jornal-escola para os jovens estudantes de Ciências da Comunicação, devia pôr de lado esta ideia de informar com qualidade a comunidade académica. Como editor proponho até que se acabem com os editores, que se deixe de mandar redatores aos acontecimentos e que se arranje um algoritmo qualquer que nos diga o que publicar. Sem sair de casa, de preferência, que isto de ter de andar para ir cobrir coisas tem de acabar.

Quando tudo já só for operado só por máquinas, isto é que vai ser poupar a sério. Provavelmente é mesmo isto. Os média andam todos a viver acima das suas possibilidades e a dar-se ao luxo de, imagine-se, contratar pessoas para escrever sobre pessoas.

Que desperdício.