São poucos, mas estão bem representados. Fizeram uma viagem de centenas de quilómetros, estão longe da família e dos amigos só para seguir um objetivo: aprender melhor o português.

Mas, os estudantes asiáticos não são os únicos que se aventuram à descoberta de novas línguas, costumes e culturas em Portugal. Afinal, o que têm estes estudantes em comum?

 

” A longa história de contacto do povo português com o Oriente”

A Universidade do Minho leciona há quase 10 anos cursos ligados à cultura asiática e japonesa. Só este ano, matricularam-se 64 alunos estrangeiros, aos quais se somam os 30 novos alunos portugueses.

Segundo a Diretora do Instituto do Confúcio, Sun Lam, os alunos portugueses que escolhem o curso de Línguas e Culturas Orientais têm um especial interesse pela cultura chinesa e japonesa, o que pode ser explicado pela “longa história de contacto do povo português com o Oriente”.

O interesse pela cultura asiática fez com que Pedro Sobral, estudante do 2ºano da Licenciatura em Línguas e Culturas Orientais, optasse por este curso: “Acho fascinante a história e evolução das culturas milenares que estão na origem das populações asiáticas”, explicou.

 

Uma área que interessa cada vez mais

A cada ano que passa, as 30 vagas disponíveis tornam-se menos num curso cada vez mais procurado. “O curso tem uma vaga de 30 alunos e enche todos os anos, com a média de entrada a aumentar. Nota-se que a qualidade dos alunos tem melhorado e os resultados de aprendizagem também”, referiu Sum Lam.

O desenvolvimento e crescimento da China nas diferentes áreas cultural, social e económica poderá ser um fator que influencia a escolha de cursos que lecionem a cultura asiática. Para a estudante de Mestrado em Estudos Culturais, Ana Ng, os jovens “já não estão apenas interessados em aprender a falar a língua chinesa, mas também a conhecer a vida quotidiana, em confecionar refeições chinesas e em ouvir e cantar músicas chinesas.”

 

E o que leva os jovens asiáticos a interessarem-se por Portugal?

A maioria dos jovens asiáticos que estudam a língua portuguesa anseiam visitar o país de origem. Conhecer uma cultura vai muito para além de saber escrever e falar corretamente uma determinada língua. Há valores, costumes, tradições e toda uma cultura por explorar.

Foi o caso da estudante de Mestrado em Estudos Interculturais, Ana Ng, que decidiu completar os seus estudos em Portugal. “Escolhi fazer o Mestrado em Portugal porque achava interessante a vida neste país”, diz Ana Ng. Mas, o interesse desta estudante de Macau vai além da simples ideia de gostar do país.”Gostava de conviver mais tempo com os portugueses [e] conhecer melhor a cultura portuguesa”, referiu Ana Ng.

 

” Quanto à cultura chinesa, acho que a sua entrada em Portugal poderá ser uma faca de dois gumes”

Porém, nem tudo aparenta ser o cenário ideal para estes jovens portugueses e asiáticos. Ainda são poucos os jovens estudantes interessados pela cultura asiática e, consequentemente, poucos também são os que toleram a entrada dessa cultura em Portugal.

A estudante de Mestrado em Estudos Interculturais Português e Chinês, Andreia Carvalho, admite a possibilidade de haver, ainda, obstáculos a ultrapassar. “Quanto à cultura chinesa, acho que a sua entrada em Portugal poderá ser uma faca de dois gumes, porque se o investimento chinês em Portugal for bem visto, as pessoas abrirão as suas mentes à cultura”, afirmou.

A abertura e aceitação da cultura asiática em Portugal surge como uma necessidade ainda por cumprir.”Se a entrada da cultura chinesa em Portugal for mal vista, é possível a criação de uma aversão a tudo o que é “chinês”, arrastando consigo também as culturas coreana e japonesas”, acrescentou Andreia Carvalho.

Aceitando ou não, a verdade é que a influência da cultura asiática em Portugal é uma tendência a aumentar. Seja pela língua, gastronomia, costumes e até mesmo pela Manga, o Oriente está fortemente ligado a Portugal. E hoje, mais do que nunca, os jovens portugueses querem abrir as portas para um futuro na Ásia.