Para Famalicão e Fafe, o reencontro. O primeiro duelo de sempre na Taça. Um dérbi minhoto com história. No meio das muitas pessoas no Municipal 22 de Junho, alguém a saltar à vista. Mochila às costas, doces na mão e uma caixa para fazer os trocos. Para ele, é apenas mais um jogo. Mais noventa minutos de uma vida dedicada a vender nos estádios de futebol. Já lá vão 25 anos.

Os portões abrem, os adeptos vão entrando. E Jaime Alves também. É assim a cada fim-de-semana. Apresenta-se, informa da sua intenção e lá consegue acesso aos estádios. Contudo, “agora é muito mais difícil”, atira. “Muitas vezes tento dar a volta aos seguranças. Em Braga vendi há muitos anos, no 1.º de Maio. Agora não posso. Há campos que já não deixam vender. E a gente tem de vir para os pequenos para ter algum também. Nestes campos é mais fácil, nos da primeira liga é mais difícil”, confessa.

O mundo do trabalho apareceu cedo. Muito cedo. “Comecei com 14 anos no Estádio das Antas a vender café e depois chocolates. Saí das Antas e comecei a fazer isto por mim, mas tive emprego e fazia disto part-time. Agora não tenho emprego e o meu modo de vida é este”, revela. No entanto, mostra “gosto” no que faz, ainda que hoje seja “mais por necessidade”.

Natural do Porto, Jaime vende de tudo. Desde chocolates a torrões, passando por cachecóis e capas para a chuva. “Isto no futebol”, explica. Porque não só nos estádios se faz o seu ganha-pão. “Depois faço festas, vendo no verão em concertos, pirilampos para as crianças”, cita.

Do roubo no Jamor ao prejuízo em Chaves

Aos 48 anos, muitas histórias para contar. De estádio em estádio, a venda ambulante já lhe deu muito. Mas o roubo também já bateu à porta. Uma vez foi no Jamor. “A seguir ao fim do jogo, lá na bancada, a claque do Porto chamou-me e eu ia com o tabuleiro cheio de chocolates e roubaram-me tudo”, lamenta.

Jaime recorda outro episódio menos bom. Foi num jogo entre Desportivo de Chaves e Sporting: “Aconteceu-me igual. Chamaram-me, tapei o tabuleiro mas foi tudo à vida. Um prejuízo enorme”.

Um trabalho que já valeu idas ao estrangeiro

Um sustento. Uma forma de vida. Uma escolha. Desde 1980, este portuense dedica o tempo a este trabalho. Percorre as bancadas a pente fino. A sua casa confunde-se com o verde dos relvados. “Faço isto sempre, todos os fins-de-semana, no futebol e em todos os campos”, afirma. No caminho, Jaime já fez valer a sua máxima além-fronteiras. “Já fui à França e à Suíça vender cachecóis, nos jogos de Portugal e do Benfica lá fora”, conta.

Neste fim-de-semana, Jaime Alves fez Taça. Primeiro em Santa Maria da Feira, no duelo entre Espinho e Sporting. Depois, em Famalicão. Por fim, no jogo entre Vieira e Freamunde. Sem parar. Findada mais uma aventura, em dose tripla, uma coisa é certa. No próximo fim-de-semana, Jaime Alves estará por aí algures, a vender nos estádios de Portugal.

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Fotos: Ricardo Castro