Se cair, levanto-me
“Os gatos não têm vertigens” é o mais recente filme do realizador português António Pedro Vasconcelos, considerado pelo próprio o único filme de amor que realizou até hoje. Segundo dados do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA), o filme contou com 25.635 espetadores na semana de estreia nas salas portuguesas. Por aqui já se vê o sucesso do filme, tendo sido o terceiro mais visto entre 25 de setembro e 1 de outubro.
O argumento, original e fiel ao retrato da humanidade, conta a vida de Jó (personagem interpretada por João Jesus): um jovem que vive com o pai num bairro de Lisboa, mas que é maltratado e expulso de casa no dia em que completa 18 anos. Desamparado e destinado a viver debaixo do céu de Lisboa, Jó acaba por encontrar abrigo no terraço da casa de Rosa (Maria do Céu Guerra), cujo marido morreu recentemente.
Como um gato tem sete vidas, também Jó parece lutar contra todos os obstáculos que lhe vão aparecendo pelo caminho, nunca se deixando abater totalmente. Uma lição de vida em forma de longa metragem que retrata de forma fidedigna a solidão dos mais velhos e o desamparo do mais jovens na sociedade portuguesa atual. O desamparo de Jó, a violência do pai alcoólico e a indiferença da sua mãe para com essa situação parece uma história retirada do Portugal real. Um facto de aplaudir pelo despertar de consciência que provoca.
Ana Moura é quem dá voz à música de fundo do novo filme do mesmo realizador de A Bela e o Paparazzo, uma excelente combinação para um filme que faz uma reprodução quase fiel da crise de valores que se vive atualmente. De destacar são também as excelentes interpretações de Fernanda Serrano (que interpreta Luísa, filha de Rosa), Ricardo Carriço (Daniel, marido de Luísa) e Nicolau Breyner (Joaquim, marido de Rosa); uma família com os seus conflitos latentes e cicatrizes do passado que está prestes a desmoronar-se e a redescobrir-se.
Apesar da linguagem um pouco rude e de um final que poderia revelar um pouco mais sobre o rumo seguido por Jó, “Os Gatos não têm Vertigens” é, sem sombra de dúvidas, um grande filme. Tem uma história que cola o espectador ao ecrã e que o fará soltar umas valentes gargalhadas, mas também algumas lágrimas.
E a capacidade de fazer o espectador sentir é o que se espera do verdadeiro cinema.