A alegria como ingrediente de sucesso
Nos meus tempos de jogador de futebol, com 11 ou 12 anos, tive um treinador que gostava de dizer que a equipa tinha de jogar com alegria. Na altura, aquilo fazia-me confusão, porque não percebia o sentido. Não sabia se o treinador queria que nos ríssemos em campo, por exemplo. Com o passar do tempo, fui percebendo: queria ver-nos divertidos, a desfrutar do jogo, a jogar com gosto. Perdêssemos, empatássemos ou ganhássemos, nunca podíamos encarar os jogos como tortura. Mesmo quando éramos massacrados.
Hoje, é fácil ver o que é uma equipa que jogue com alegria. Basta olhar para o Vitória. Encara os adversários nos olhos, joga com aquele descomprometimento de quem não tem que definir metas altas e gosta de ser rebelde ao ponto de se intrometer entre as principais formações. Aliás, este Vitória, mais uma construção que tem muito de Rui Vitória, já é uma das boas equipas da Primeira Liga de futebol – que parece cada vez mais nivelada por baixo, com plantéis fracos, desequilibrados e construídos sem critério, que praticam um futebol pobre e desinteressante.
Não foi por acaso que o Vitória foi a primeira equipa portuguesa a travar a caminhada vitoriosa do FC Porto ou que impôs, com categoria, a única derrota do Sporting no campeonato. Com quinze jornadas, a uma do fecho da primeira volta, a equipa vitoriana ocupa o terceiro lugar, com menos três pontos do que os portistas e mais um do que os leões – e, na luta de vizinhos, mais três do que o SC Braga. João Afonso e Josué seguram o escudo, André André traça o plano, Bernard e Hernâni cravam a espada no rival: eis o Vitória em modo conquistador.
Esta tal alegria de jogar, numa espécie de futebol de rua transportado para os relvados que o Vitória coloca em cada jogo, tem noutra equipa minhota o pólo inverso: o Gil Vicente é talvez uma das equipas mais débeis do campeonato, ainda não venceu qualquer jogo na Primeira Liga e ocupa o último lugar, com seis pontos em 15 jogos, algo que lhe traça um horizonte negro. É uma equipa apática, amorfa, sem… alegria.
Contra o FC Porto, por exemplo, o Gil Vicente começou bem. Atrevido, criou algumas boas oportunidades para se colocar em vantagem. Depois de 20 minutos bons, em que chegou a parecer ter condições para discutir o resultado, o Gil apagou-se. Mais do que a derrota, que acaba por ser natural tendo em conta a diferença de valia entre as duas equipas, foi confrangedora a falta de reacção, de ideias, de rasgo por parte da formação gilista. A partir de certa altura, completamente sufocado pelo FC Porto, o Gil baixou os braços, agitou a bandeira branca em sinal de rendição e pediu misericórdia. Massacrada, deixou de lutar.
Mais do que as vitórias ou as derrotas, a diferença entre as duas equipas minhotas, duas das quatro que estão no principal campeonato português, está na atitude. Enquanto o Vitória joga com alegria, o Gil Vicente parece ter… alergia de jogar. E por isso, cada um à sua maneira, são dois destaques desta primeira metade de temporada.