Museu da Imagem: Para além do que não se vê
Torre medieval entre duas outras, mas que se destaca pela sua cor avermelhada. Sob o alto da arcada se estende até aos céus. Aí se guarda uma forma de arte que não é passível de ser feita por qualquer um, mas apenas por aqueles que têm o especial dom de retratar o que existe ou o que se pensa não ser real.
Após terem fundado o único festival de fotografia em Portugal, “Os Encontros da Imagem”, em 1997, Rui Prata e alguns amigos pressionaram a autarquia bracarense para criar um museu, o Museu da Imagem. Com um acervo de 120 mil negativos em vidro da Casa de Braga, que documentavam seis décadas de história da cidade, o museu nasceu.
Uma referência da cidade de Braga? “Naturalmente que sim”, foi a resposta do diretor Rui Prata.
Educar para a fotografia
Com mais de 10 anos, ensina os mais velhos. A fotografia não é arte fácil de compreender. É preciso olhar com olhos de ver para conseguir alcançar o que está, mas não se vê.
“É importante a preservação da fotografia, na medida em que é a preservação da nossa memória”, defendeu Rui Prata. As exposições documentais do museu atraem os mais velhos, ávidos pela nostalgia daquele que era o seu tempo, atentos ao que está a mais, a rotunda que não existia, o edifício que não estava lá ou os trajes típicos que já ninguém usa aos domingos.
Este museu não só tem uma preocupação histórico-documental. Procura, sobretudo, elucidar o público e sensibilizá-lo para aquilo que é a imagem, contribuindo para descodificar “os diversos discursos estéticos da atualidade”.
A fotografia: fragmento da realidade
“Tal como a nossa capacidade de manusear um lápis ou um pincel não faz de nós um artista, também o manuseamento da fotografia não faz um fotógrafo“, afirmou Rui Prata. O processo de democratização tem-se apoderado da arte de fotografar. “Qualquer criança pode captar uma fotografia”, considera o diretor do espaço cultural.
Forma de registo “um pouco complexa”, a fotografia trata-se de uma representação “mais acessível à generalidade do público do que possa ser, por exemplo, uma pintura abstrata.”
“A fotografia não mostra a realidade, a fotografia mostra um fragmento da realidade.” É através do olhar do fotógrafo que o observador vê o que aos seus olhos se coloca, acredita Rui Prata. Uma arte onde a verdade pode estar presente ou ser “fabricada, teatralizada” para produzir um determinado efeito. Apesar de o discurso da manipulação ser controverso, Rui Prata afirma que “se estamos a falar do ato criativo, aí o fotógrafo tem toda a liberdade de manipular até ao extremo a imagem, sendo que é importante que construa uma narrativa coerente.“ Já no fotojornalismo a perspetiva é contrária: “faz parte da ética jornalística procurar ser tão real e tão isenta [a fotografia] quanto possível.”
Programação para todos os gostos
Com uma programação eclética, o Museu da Imagem pretende dar a conhecer aos seus visitantes os vários territórios que a fotografia comporta. A promoção do espirito crítico é, para o diretor Rui Prata, “fundamental. É importante que os visitantes adquiram sensibilidade e alfabetização visual para ler e para interpretar as peças”, considera. E ainda confessa: “Às vezes custa-me um pouco quando vejo pessoas a entrarem e a passarem exatamente como se estivessem a ver as montras sem tentar perceber, sem ver o detalhe da imagem.”
Este espaço cultural que aposta sobretudo em artistas nacionais como André Cepeda, Paulo Catrica e António Júlio Duarte, também já contou com exposições de fotógrafos internacionais de renome, como Juan Fontcuberta, Thomas Demand e Antoine D’Agata.
O Museu da Imagem não só faz exposições, mas também palestras e ateliers de formação que vão desde a construção de máquinas fotográficas até outros conhecimentos mais aprofundados sobre a imagem.
De fevereiro em diante, serão temas de exposição a Semana Santa, as questões de emigração, S. João e, ainda, a comemoração do tricentenário da construção da Arcada.
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