Rui Massena: “Um país que não valoriza a criatividade, não valoriza a existência de um povo”
Rui Massena deixou a orquestra e dedica-se, agora, à música a solo. Em entrevista ao ComUM, o maestro falou sobre o novo álbum e sobre o papel da cultura e da arte em Portugal.
‘ComUM’ – Enquanto maestro, como se sente a compor o seu primeiro disco de canções?
Rui Massena – No ato da composição, sou apenas um músico que sente liberdade para se expressar. Sou um compositor de canções com uma vida musical muito rica, o que de alguma forma se há-de refletir no disco.
‘ComUM’ – O que o leva a querer estar mais próximo do público, como refere na descrição do disco?
R. M. – A necessidade de me expressar através das minhas próprias palavras (sons) e não apenas através das palavras que grandes compositores escreveram. Partilhar esta intimidade com as pessoas é estar mais próximo delas.
‘ComUM’ – Como define este novo álbum?
R. M. – Um álbum onde a palavra-chave é a tranquilidade. Apesar de conter imensa inquietude, acho que atinge uma certa harmonia e paz.
‘ComUM’ – Em que é que se inspira para compor a sua produção musical?
R. M. – Inspiro-me muito no som de cada nota. À parte disso, inspiro-me no amor, na partida, no futuro, na melancolia, na família, entre outros.
‘ComUM’ – Às faixas associa-se uma simbologia. Por exemplo, a canção ‘Luzes’ representa “a alienação”. Existe algum objetivo por detrás desta carga simbólica?
R. M. – A alienação é um exemplo. Vivemos um tempo de aceleração da história e é como se o mundo nos fugisse das mãos. O tempo virtual às vezes é tão rápido que para o apanhar resta-nos alienar e não pensar.
‘ComUM’ – Se tivesse que escolher uma faixa, qual escolheria?
R. M. – ‘Família’.
‘ComUM’ – De que forma entende o seguimento do seu percurso?
R. M. – Entendo de acordo com os impulsos que vou sentindo. Tentar ser leal ao que sinto e seguir sem medo.
‘ComUM’ – Qual tem sido a recetividade dos seus apreciadores, com esta nova ideia?
R. M. – Extraordinariamente surpreendente. Entrei para o Top 8 Nacional na primeira semana de vendas. Para um disco instrumental, piano solo, na área clássica- contemporânea é um prazer. Também nos diz que o país pode receber todo o tipo de música.
‘ComUM’ – Ver o nosso país sem Ministério da Cultura constitui, para si, um obstáculo à propensão das artes?
R. M. – O Ministério ter passado a Secretaria de Estado é uma clara perda de influência, pelo simples facto de não se sentar no conselho de ministros. No entanto, isso representa apenas a visão da importância a dar à área. É uma pena. Um país que não valoriza a criatividade, não valoriza a existência de um povo e a sua individualidade.
‘ComUM’ – Como vê a música atualmente em Portugal?
R. M. – Estamos a passar uma fase muito difícil, porém, é nestas alturas que as grandes obras nascem. A criação serve também para sublimar os problemas.
‘ComUM’ – Acredita que deixará da sua parte um contributo decisivo?
R. M. – Decisivo? Não. Somos parte de uma sociedade em que todos somos importantes. Nessa missão eu acredito – servir a sociedade.