Ao final da manhã desta quinta-feira, dia 2 de abril, a família de Manoel de Oliveira anuncia a morte deste familiar à agência ‘Lusa’. Os seus 106 anos deixaram por cá mais de sete centenas de produções cinematográficas e muita força de vontade.

Durante a vida, o cinema foi, desde os 20 anos, a sua principal atividade. Manoel de Oliveira foi o único cineasta vivo, no mundo, que conviveu com a transição do mudo para o falado e do visor a preto e branco para o visor a cores. Nesta altura, ‘Aniki-Bobó’, em 1942, e ‘O Pintor e a Cidade’, em 1956, representam, nos seus trabalhos, a ponte desta mudança.

A sua carreira no cinema ao longo de sete décadas conta com aproximadamente 700 filmes e 33 longas e curtas-metragens. Entre a sua lista de filmes, estão obras como ‘Amor de Perdição’, ‘Non ou Vã Glória de Mandar’, ‘A Divina Comédia’, ‘Vale Abraão’ ou ‘Inquietude’. Inspirada num documentário alemão da época, a sua primeira curta-metragem remonta a 1931, de nome ‘Douro, Faina Fluvial’, onde retrata a vida ribeirinha desta região.

Antes de se dedicar à sétima arte, chegou a dedicar-se às tertúlias literárias, onde conheceu um dos seus amigos, o escritor José Régio. Nos anos 80, a sua ligação, já desencadeada anteriormente, à escritora Agustina Bessa-Luís impulsiona o surgimento de novas produções. Recorreu, inclusive, ao estrangeiro, e produziu, a título de exemplo, a ‘Divina Comédia’, a partir da obra de Dante Alghieri.

Quanto ao reconhecimento, trata-se de um longo percurso. Começou por ser mais aplaudido no estrangeiro, nos anos 30, e  foi recebendo distinções um pouco por todo o planeta, desde a Alemanha até Tóquio, de Portugal, com altas condecorações, até França, no ano passado, por François Hollande. De acordo com dados do ‘IMDb’, ganhou 47 prémios e 31 nomeações.

Manoel de Oliveira estudou na Galiza, foi atleta no Sport Clube do Porto e inscreveu-se na escola de atores de Rino Lupo, cineasta italiano, onde começou a dar os primeiros passos no cinema. Em 1963, com a projeção do filme ‘O Arco da Primavera’, é detido pela PIDE, acompanhando-se do escritor Urbano Tavares Rodrigues. Avançando até à atualidade, no ano anterior, ainda concebeu ‘O Velho do Restelo’, entendendo o próprio estar-se perante uma “reflexão sobre a humanidade”. Nascido no Porto, na freguesia de Cedofeita, aí faleceu. Assim se encerra mais uma biografia, que constitui um marco para o legado luso.