Sufjan Stevens já está longe de ser considerado um novato nestas andanças. Com seis álbuns na bagagem – o primeiro editado em 2000 – apresentou recentemente, no dia 31 de Março, o mais novo, intitulado “Carrie & Lowell”.

Este disco marca o regresso de Stevens ao registo que o caracteriza. Depois do som mais electrónico que apresentou no anterior “Age of the Adz”, volta à sonoridade folk, a um registo mais ‘stripped-down’ com a voz acompanhada apenas pela guitarra ou do ocasional piano. E, a julgar pelas críticas, figura uma das suas melhores composições.

Ouvir este disco e atentar às letras presentes em cada canção, assemelha-se à sensação de estarmos a folhear-lhe as entradas do diário. Apenas pelo título, que remete para o nome da mãe e do padrasto, é facilmente perceptível o cariz intimista a que se propõe. No decorrer das faixas, canta as suas experiências pessoais, reflecte sobre a morte da mãe e relembra episódios da infância (por exemplo, em “Should Have Known Better”, quando diz “When I was three, three maybe four, she left us at that videostore”), numa tentativa de ultrapassar o sucedido e de aceitar o que não pode ser alterado.

Fonte: The Guardian

Uma das coisas mais interessantes acerca deste último trabalho de Sufjan Stevens é a forma como o peso do conteúdo contrasta com a forma. Isto é, o peso das palavras que profere – maior parte delas relativas à confusão deixada pela relação conturbada com a mãe e o luto inevitável, inerente à sua morte – é transmitido de forma muito harmoniosa e com melodias graciosas. Como exemplo disso mesmo, temos a faixa “Forth of July” que se apresenta apenas com uma sucessão simples de acordes no piano, com a voz de Stevens a entoar “Tell me what did you learn from the Tillamook burn? / Or the Fourth of July? / We’re all gonna die”.

Não se pode dizer que seja um trabalho musicalmente inovador ou rebuscado, visto que, de um ponto de vista mais técnico, não oferece grande complexidade – apresenta até uma abordagem musical bem simples. No entanto, este é o disco que deixa patente o seu crescimento enquanto compositor e, provavelmente, o seu melhor até à data.

Para além e uma reflexão pessoal, trata-se de uma homenagem póstuma sentida, que não se propõe a exorcizar fantasmas, mas a purificá-los e torná-los eternos.