Há dois livros que li quando era mais novo e me ficaram na memória: “Crónica dos Bons Malandros” e “Crónica de Uma Morte Anunciada”. Depois da jornada deste fim de semana, lembrei-me deles para os aplicar a duas equipas minhotas.

Olhar para a forma de jogar do Vitória e ver que esta época, a jogar em casa nos jogos do campeonato, travou os quatro primeiros classificados faz-me lembrar o tal livro dos bons malandros.

Ontem, em Guimarães, apesar de o Benfica ter comemorado o bicampeonato, o Vitória fez tudo para impedir a festa encarnada. Resistiu ao sufoco inicial, respirou, encheu o peito e usou as armas que tem para lutar. Somou um ponto, ameaçou o quarto lugar do SC Braga – que ainda está em aberto – e confirmou que nenhum dos quatro primeiros classificados venceu no Estádio D. Afonso Henriques.

Os bons malandros do Vitória tiraram pela primeira vez pontos ao FC Porto, impuseram a maior derrota ao Sporting até agora, bateram o eterno rival bracarense e impediram a vitória do novo bicampeão. Se o Benfica foi campeão em Guimarães, não foi por culpa vitoriana.

À mesma hora, em Penafiel, confirmava-se a morte anunciada do Gil Vicente. Os gilistas perderam na casa do último, somaram a 18ª derrota no campeonato, caindo para o segundo escalão. Débil, com um plantel desequilibrado e pouco capaz, o Gil Vicente mostrou sempre muitas dificuldades ao longo da época, nunca conseguiu deixar os lugares do fundo e, apesar de uma boa entrada no novo ano, depois da remodelação no mercado de Inverno, deixou sempre uma sensação de impotência para lutar contra o destino.

Tal como no livro de Gabriel García Márquez, a expectativa manteve-se sempre, a crença de um desfecho diferente também, porque por vezes as coisas alteram-se de forma inesperada, mas, a partir de determinada altura, pareceu anunciado que, mais tarde ou mais cedo, o Gil Vicente acabaria por tombar. Da mesma forma que há muito se previa um Benfica campeão.