Cantor e compositor, com mais de 20 anos de carreira, ficou conhecido em 1994, com álbum “Viagens”. Aos 54 anos de idade, Pedro Abrunhosa ainda é presença recorrente em festas académicas, de norte a sul do país. Esta quinta-feira, esteve em Braga. Depois da atuação no “Enterro da Gata’15”, o artista falou do percurso musical e do agrado que sente por atuar na cidade minhota. Preocupado com a emigração de jovens licenciados, Pedro Abrunhosa desafiou os estudantes a lutarem pelos seus sonhos.

É bom regressar a Braga?
PA –
Estive na Noite Branca, e creio que já fiz duas ou três noites no Theatro Circo, com a minha banda. Braga é um sítio onde somos acolhidos de uma maneira peculiar… Aqui, encontramos um público característico… É um público universitário, numa cidade com muita informação musical e muito ávida de espetáculo. Mas, simultaneamente, respeitadora e cúmplice. Por isso, os espetáculos são momentos de celebração, mas também de introspeção. Braga é um dos sítios mais agradáveis para se tocar, e não digo isto por ser politicamente correto. É, de facto, muito bom tocar em Braga!

Este concerto superou as expectativas?
PA-
Nós já fizemos muitos Enterros da Gata. E, claro que o Enterro da Gata é sempre um espetáculo muito físico, porque requer permanente atenção ao público, por muitas razões. É uma semana cheia de atividade musical e, para conseguir manter o espetáculo, tem que ser assim. Tem de ser duro, forte e físico! Tem de ser, como dizia há pouco, simultaneamente, artístico, genuíno e generoso. As pessoas que estão aqui, às 3h30 ou 4h00 da manhã, não estão por acaso. Elas precisam de um certo encantamento, ou seja, de uma coisa provocadora, mas também festiva. Para isso, remete-se para um universo mais interior… E é essa caraterística interessante, que o Enterro da Gata tem, que não vejo nas outras festas académicas. Portanto, quando atuo aqui, as expetativas são sempre altas, e estes concertos requerem muita preparação da banda.

Se pudesse descrever esta atuação numa palavra, qual seria?
PA-
Cúmplice.

Que diferenças encontra entre as festas académicas e os restantes concertos?
PA-
As diferenças são muitas. Às vezes, para o bem outras para o mal. Aqui, neste caso, a primeira diferença é que o espetáculo começa à 1h30 da manhã, e tem de ser mais eficiente, porque, obviamente, as pessoas estão cansadas, às vezes está muito frio… Portanto, o espetáculo tem de ser muito eficiente para conseguir agarrar as pessoas. As semanas académicas são diferentes dos festivais de verão, porque são espetáculos onde temos mais liberdade para atuar. No caso dos espetáculos urbanos, municipais, o público é completamente diferente. O público das semanas académicas não tem nada a ver com o público dos concertos municipais… São públicos diferentes, mas complementares. De qualquer forma, são todos bons desafios. O reportório que nós fazemos, também, não é igual. Há coisas que não se vai fazer às nove horas da noite, na avenida dos aliados, perante as famílias.

Depois deste concerto perante milhares de estudantes, entre eles muitos finalistas, e numa fase em que a emigrações jovem aumenta, que mensagem gostava de deixar aos universitários minhotos?
PA-
Quero transmitir, precisamente, o contrário daquilo que nosso primeiro-ministro disse há dois anos atrás. Foi uma mensagem muito infeliz. Eu já estive fora do país, a trabalhar e a estudar. Mas, a realidade é que eu fui porque quis ir, por outras razões… Estima-se, que provavelmente, meio milhão de jovens, depois da formação, o que exige investimento dos pais e do Estado, com dinheiro que resulta dos impostos, que todos nós pagamos, emigrem. Isto é uma perda para o país. O que eu posso dizer aos estudantes é que, para já, vão procurar onde quer que seja, pode ser cá ou onde estiver a felicidade deles, mas que vão… Não porque o país contruiu um lugar de miséria, mas sim, porque querem procurar outro sítio. A geração de hoje esta a ser obrigada a ir embora. Essa é que é a grande questão! E vão embora para países que têm melhor qualidade de vida, e onde o seu saber vai ser aproveitado. Aqui os estudantes vão-se embora porque têm de ir, vão porque não tem alternativa. Aqui a escolha é entre o buraco e o incerto.