“- Onde é que ele anda?

– O Pli ainda não chegou”

Este pergunta-resposta repetiu-se até o guarda-redes chegar. Não foi o último, mas quase. Chega apressado, cumprimenta os amigos, um a um, entre abraços e apertos de mão, e despacha todos: “Vá, vamos equipar!”.

Marinho, jogador do Nova Geração (Rússia), é dos primeiros a responder: “Um gajo já nem pode conviver”. A resposta de Pli é rápida e direta: “Convives no balneário, anda lá”.

É o jogo de despedida de Pli. De um lado estará o SC Braga All Star, composto desde jogadores de futebol (como Alan e Custódio), a antigos e atuais jogadores de futsal (como Coroas, Lino, Fabri e os jogadores que fizeram parte do plantel do Braga/AAUM esta temporada) e até representantes das claques (caso de Zuca, dos Red Boys e Paulinho, dos Bracara Legion). Do outro lado da quadra encontram-se os Amigos de Pli, com jogadores como Cardinal, Marinho, Cláudio Martins e Joel Queirós, além de Benedito, que, mesmo lesionado, não faltou à festa.

Enquanto não chegava, os amigos de Pli contavam histórias de outros tempos e de outros lugares, falavam da sua carreira e do futuro. O guarda-redes mandou-os entrar mas a conversa continua dentro do pavilhão, onde os adeptos esperam os ‘craques’ num jogo acima de tudo solidário e amigável.

O “guarda-redes doido”, como lhe chama Alan, capitão do SC Braga, é o último a vestir-se. Anda de um lado para o outro, é entrevistado, fala com amigos que já não vê há algum tempo e, por fim, regressa ao balneário para se equipar rapidamente.

As memórias sobre Pli vão permanecer depois desta despedida. Jefferson, agora no Benfica, avisa que há “muitas, muitas histórias, que não se podem contar”. E são várias as histórias que se contam sobre este guarda-redes “que não agrada a toda a gente dentro de campo, mas é incrível”, como refere o antigo jogador do Braga/AAUM, Filipe Coroas.

O jogo está atrasado mas ninguém se queixa. As claques vão fazendo a festa e, tal como junto aos balneários, também nas bancadas reina a conversa e a boa disposição. Paulo Tavares, treinador que acompanhou grande parte da sua carreira, afirma que Pli “já era assim” quando o foi buscar, em miúdo, ao São Lázaro. Na hora de recordar as histórias, Paulo Tavares não vai longe, e conta que “por viver de tal forma o jogo e querer tanto ganhar, por vezes tem cãibras no banco, ainda há pouco tempo aconteceu contra o Benfica”.

O ‘adepto dentro de campo’ já está equipado com o 18 nas costas, como sempre. Os árbitros, treinadores e jogadores que fazem a festa são chamados, um a um. Para o fim, fica Pli.

Marinho recorda-se muito bem de uma história sobre o guarda-redes, marcada, claro, pelo seu temperamento: “Uma vez jogámos contra o Sporting, fomos a penalties e o Pli por duas ou três vezes quase defendeu. E no remate seguinte, a bola bate-lhe na mão, mas entra. Enfurecido, rasgou a camisola não pôde defender mais penalties”, conta o atleta português.

O nome de Pli é o próximo. Os adeptos reagem com uma enorme ovação e ele entra, acompanhado da sua filha. Cumprimenta os amigos novamente, aplaude os adeptos e volta ao centro do terreno. Chegam-lhe as ‘prendas’: a camisola emoldurada, um ramo de flores, camisolas assinadas, os últimos cartões amarelo e vermelho que Pli receberá, entre outras prendas.

O jogo começa e o primeiro golo é de Peixoto, na própria baliza. Mas isso não interessa. Ninguém olha para o resultado, nem se importa com os golos.

Peixoto, que fez a formação no Braga/AAUM e jogou nos seniores, saindo apenas na época passada, diz que ainda hoje “fala sobre tudo” com Pli, a quem considera “um pai”.

O advogado, tem como próximo objetivo assumir a presidência do SC Braga, resta saber quando se candidatará: “É um objetivo que tenho, mas tenho de ponderar agora nas férias”

Ninguém aponta o resultado final, que culminou com o golo de Pli, na conversão de uma grande penalidade. Um lance duvidoso, em que Marinho se tornou árbitro por uns minutos e conseguiu ainda expulsar o guarda-redes do Fundão, Cláudio Martins.

O jogo acaba em festa. Pli é lançado ao ar e continua a sessão de autógrafos, que começou ao intervalo. Pede desculpa a um adepto por não poder dar a camisola. “Esta tem de ficar para mim”, justificou.

E ficou. O 18 foi retirado das camisolas do Braga/AAUM, ficando para sempre como o número de Pli. O guarda-redes, que jogou pela última vez na sua carreira, afirma que agora é tempo de ir de férias.

Texto: Tiago Ramalho
Vídeo: João Pereira
Fotogaleria: João Pereira e Ricardo Castro
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