Prezamos os concursos, os rankings e os prémios. O Homo Hierarchicus, como fala Louis Dumont, propenso a hierarquias, desforra-se do Homo Aequalis, propenso à igualdade. Como chegamos a esta inflexão? O capitalismo liberal, associado à igualdade e ao individualismo, já conheceu melhores dias. Os Estados, os grandes grupos económicos e o sector financeiro não ajudam. Após a crise de 2008, o sector financeiro revigora-se. Os dispositivos que nos governam são tudo menos reféns da democracia. E o autoritarismo tecnocrático ergue-se com a principal alternativa a si próprio.
Por estes lados, as democracias, em avulso (nações) ou por atacado (comunidades), andam musculadas. Ajustam os cidadãos. Mas nada que se compare aos rebanhos humanos das utopias disfóricas da ficção científica. Quer-me parecer, mesmo assim, que nos últimos anos me puseram mais brincos nas orelhas do que às vacas do contrabando.
Com o regresso do Homo Hierarchicus, o olhar volta a focar-se nas hierarquias, de preferência certificadas. Os concursos, os rankings e os prémios são procedimentos de hierarquização. Procedimentos humanos. Imagine-se um jogo em que os “favoritos” podem ditar as regras e decidir o que é trunfo e o que é palha. Só se forem péssimos favoritos é que não serão grandes campeões…
Este anúncio, Diving Contest, para a marca de cerveja John Smith’s, é uma caricatura dos dispositivos de competição. Segundo as regras, com júris isentos e resultados inequívocos.