Street Art Braga: Falar da arte que mora na rua
O mundo dos B-Boys, dos rappers e dos writers ainda é novo na Bracara Augusta. Uma cidade grande, mas ainda pequena para aceitar que a arte underground veio para ficar.
“O Hip Hop está morto em Portugal”, diz o rapper Arnaldo Brás. Porém, em Braga, a arte urbana está em cada esquina. Salta à vista, faz sentir. Não é arte de “grandes enterrados”, mas de “gente que sente” e que em cada canto se expressa, acrescenta o rapper bracarense. Paredes velhas são cobertas de tinta que fala e os concertos, em maior número, fazem do rap a nova moda.
E foi neste contexto que o Street Art Braga surgiu, nos inícios de 2015, apoiado pela BragARTES. Um projeto que pretende unir e divulgar, através do Facebook, tudo o que se vem fazendo no movimento underground bracarense. Formado pelo artista Bruno Guedes, mais conhecido por Jack Soul Deans, rapidamente contou com a colaboração dos rappers Arnaldo Brás e Bigg John. Porque “só em união as coisas mudam”, refere Bruno Guedes.
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A arte que sai à rua
“Quando temos paixão a correr nas veias, a arte deixa de ter significado. Apenas se vive e respira”, diz Bruno Guedes. E foi com esse pensamento que o Street Art Braga começou. “Um projeto sério que pretende marcar uma geração”, que pretende dar um significado à arte que está ao dispor de todos os que pelas rua de Braga passam.
A arte urbana é, assim, para este grupo a “arte perfeita”. Um tipo de arte que não pede licença para entrar no pensamento de quem a ouve, de quem a vê. E, ainda que não reparem nela, ela lá está e permanece. Distancia-se dos museus e galerias. Sai à rua porque é ai que pertence.
“Mas os bracarenses não compreendem a dimensão desta arte”, confessa Bruno Guedes. E a obrigação de ter uma licença na mão para tornar uma parede velha em arte faz da arte urbana “burocrática”.
Nas letras, na dança e na pintura a essência da cidade
Street Art Braga não trata apenas de divulgar arte, mas de “mudar mentalidades e de culturalizar”, conta Arnaldo Brás. Este rapper tem apenas 18 anos, mas quem o ouve logo percebe que sabe do que fala. Letras mais agressivas que dizem o que as pessoas “não querem ouvir ou não estão habituadas” fazem do rap um estilo de música mais apreciado pelos mais novos.
“É cliché o pessoal falar de droga, de morte e de vida”, diz Arnaldo. O storytelling, muito presente no rap, permite descrever a realidade da rua, as dificuldades de uma vida urbana “sem colocar florzinhas”. O graffiti, tomado pelos mais velhos como riscos que estragam paredes, ainda é visto como “vandalismo”. O breakdance ainda faz alguns duvidarem se os seus movimentos se podem considerar arte. Um mundo formado por B-Boys, rappers e writers que encontra nas artes a forma mais pura para manifestar a essência da rua.
Estes “artistas de rua”, como Arnaldo Brás lhes chama, são gente que se move “por amor”. Que sente como ninguém que na cidade ainda se pode fazer poesia com uma lata de spray ou uma letra que retrate realidade de uma vida citadina.
Além-fronteiras
Com o objetivo de divulgar primeiramente artistas bracarenses, chegam ao Street Art Braga mensagens de todo o mundo. Sejam da Suiça, França e Londres, estes artistas muitas vezes pouco conhecidos, recorrem ao Street Art Braga para mostrarem o que fazem. Uma ajuda, uma oportunidade de levar o trabalho deste novo mundo àqueles que não sabem ou não entendem a arte urbana, é este o resumo daquilo que este projeto recente pretende.
E porque “não há uma definição concreta de arte”, porque “arte é tudo aquilo que fazemos com amor”, como diz Arnaldo, o Street Art Braga pretende continuar a promover a arte underground para que um dia se perceba que “é boa cena”.
Reportagem: Judite Rodrigues
Fotografia: Carolina Gomes