Entre os passados dias 19 a 22 de Agosto, ocorreu a 23.ª edição do festival Vodafone Paredes de Coura, cujos bilhetes esgotaram pela primeira vez.

Mesmo antes do festival começar, já a vila de Paredes de Coura se enchia de festivaleiros para ouvir os concertos que nos dias 16, 17 e 18 tocaram na praça central. Milhares de jovens vaguearam pelas ruas e bares da vila num warm-up do que estaria para vir, ao som de nomes como Electric Shoes, The Happy Mess e Zé Pedro (dj set).

 

Vodafone Paredes de Coura – no recinto

O ambiente descontraído do festival, passado entre os dias à beira rio e as noites de música alternativa, incentivam ao seu reconhecimento, mas os nomes cada vez mais sonantes também não passam ao lado do público, Este ano, artistas como Charles Bradley, Temples, Tame Impala e Lykke Li encheram o palco Vodafone, mas ouve muitas surpresas, como a presença de Ratatat.

Na primeira noite, dia 19, Slowdive voltou aos palcos num concerto que parecia confundir-se com a natureza à sua volta. O trio de indie pop britânico, não conseguiu, contudo, chegar a todos os festivaleiros – quem já os conhecia disse que foi um concerto fiel ao seu estilo e agradável para o primeiro dia do festival, mas as opiniões alteram-se quando se trata de quem não estava familiarizado com a banda. A falta de interação com o público e o tempo pausado do concerto não ajudaram, mas o ambiente mudou quando os TV On The Radio subiram ao palco principal e o rock começou a entranhar-se nos festivaleiros.

Dia 20, para muitos o primeiro do festival, com o cartaz já cheio, Father John Misty, The Legendary Tigerman e Tame Impala foram os reis da noite. O português The Legendary Tigerman mostrou o que de melhor se faz no rock nacional e levou o público ao rubro quando se despediu com inúmeros gritos de “Rock ‘n’ Roll”. Os mais esperados da noite, Tame Impala, encheram o recinto com o seu pop psicadélico, para apresentarem o novo álbum “Currents”. Foram mais de 25 mil pessoas que com as mãos no ar saudaram o novo som da banda australiana.

Apesar de o grande nome da terceira noite ser War on Drugs, era de Charles Bradley que toda a gente falava no dia seguinte. O cantor de soul mostrou que, mesmo com os seus 66 anos sabe cantar e dançar. Liliana Pereira, pela primeira vez no festival e apesar de não o conhecer, disse que “foi excecional. Estava toda a gente a sentir a música, ele mostrou do que é feita a alma do soul.”

O festival acabou dia 22, sábado, com os brasileiros “Banda do Mar”, às 18h30, que tocaram no palco principal e Mallu Magalhães brilhou. O trio cantou não só as músicas da banda, como também algumas dos projetos a solo de cada um.

A noite começou ao som de Temples, que tocaram não só as suas músicas mais conhecidas, mas aproveitaram o festival para mostrar (e testar, segundo os próprios) a sua mais recente composição “Henry’s Cake”, recebida com entusiamo pelo público. De seguida, Lykke Li subiu ao palco, mas a opinião geral não abonou a seu favor “Notou-se que ela preparou bem o espetáculo, falou quase sempre em português com o público, mas o estilo não se enquadrava bem no espírito do festival, nem no daquela noite em específico”, disse Ana Almeida, uma das espectadoras. Apesar disto, o ponto alto da noite ainda estava por vir: Ratatat mostrou que a música eletrónica pode ser para todos. “Foram incríveis. Estava à espera de um DJ e afinal trazem uma música eletrónica fenomenal” diz Mário Carneiro, um repetente no festival. Raquel Sousa, estreante em Paredes de Coura, acrescenta “mesmo para quem não gosta daquele género de música, só o show e todo o aspeto visual prendeu o espectador”.

Mas nem só de nomes internacionais se faz Coura. Bandas nacionais como X-Wife, Mirror People, Peixe:avião e o DJ Nuno Lopes encheram as medidas a quem os viu. “Um dos aspetos positivos deste festival é que mostra também o melhor da música em Portugal, em vários géneros diferentes”, diz Ana Almeida. “Os pontos altos dos after-hours foram com os dj’s nacionais”, remata Luís Veloso.

 

Vodafone Paredes de Coura – no rio

Mas nem só de concertos se faz Coura. As noites frias no recinto contrastam com os dias quentes à beira rio. Eram milhares os jovens que de manhã saiam das suas tendas à procura de um lugar à sombra junto ao rio, regra geral para recuperar as horas de sono não dormidas na noite anterior.

Ali, podiam não só dormir, como receber um pouco mais da cultura do festival; houve música para todos os gostos mas, este ano, houve também literatura para todos. Uma atividade estreada nesta edição foi “Vodafone Vozes da Escrita” que juntou no palco Jazz na Relva, à beira rio, Carlos Vaz Marques, Matilde Campilho, Pedro Mexia e Rui Cardoso Martins. Em conversas informais à hora de almoço, estes quatro nomes mostraram aos milhares de jovens que se estendiam ao longo da praia fluvial do Taboão o que de melhor se faz na literatura nacional e não só. Neste palco atuaram também nomes mais recentes da música, como a barcelonense Núria Graham, os Macadame e Penicos de Prata.

 

Vodafone Paredes de Coura – no campismo

Paredes esgotou, pela primeira vez, todos os bilhetes, gerais e diários. O que, por um lado, mostra o crescente reconhecimento do festival junto do público, e que atrai cada vez mais pessoas, funciona também como desincentivo aos fãs mais fiéis. “Já venho a ‘Paredes’ desde 2009 e nunca vi o festival assim. Havia filas para todos os sítios: casas de banho, comida, lavatórios. Por isso não sei se para o ano volto”, disse Fátima Pereira.

Apesar dos novos parques de campismo, uma semana antes do Festival já não havia lugares à sombra onde pôr a tenda. A organização tentou providenciar a melhor qualidade possível: as casas de banho eram constantemente limpas, havia dezenas de voluntários pelos espaços a distribuir sacos do lixo, e até comida mexicana foi vendida, mas nem assim foi possível colmatar este fator que até agora diferenciava Coura dos outros festivais. Para o ano, o Festival Paredes de Coura regressa entre os dias 17 a 20 de Agosto.

Fotografia: © Hugo Lima www.fb.me/hugolimaphotography