Na madrugada do passado sábado, um familiar de um dos cartoonistas portugueses mais conhecidos anunciou, à agência ‘Lusa’, citada pelo ‘Expresso’, o falecimento desta figura. Vítima de Alzheimer e hospitalizado em Lisboa, José Vilhena tinha 88 anos.

A sua vida ficou marcada pela ilustração cartoonista de sátira social. Fundador das revistas ‘O Moralista’ e ‘Gaiola Aberta’, nos anos 70, assinou, na década de 50, cartoons para os meios ‘Diário de Lisboa’, ‘Cara Alegre’ e, tendo participado na sua fundação, ‘O Mundo Ri’. A conceção dos seus livros e das suas revistas foi sempre assegurada por si próprio, pelo que era considerado um “one man show”.

Também a escrita teve uma importância acrescida nesta individualidade. Com os seus 27 anos, em 1954, lançou a sua primeira obra literária de nome ‘Este mundo e o outro’, que, segundo o website relativo à sua obra e gerido por Leonardo Vilhena, seu sobrinho, “é apedrejado pela crítica de alguns jornais”. Nessa sequência, escreveu outras obras, como, em 1970, ‘Filho da Mãe’. De acordo com as palavras de Rui Zink, ao ‘Público’, “Aquilino Ribeiro chegou a tentar levá-lo para um clube, para a Associação Portuguesa de Escritores, mas ele declinou timidamente dizendo que não era escritor”, acabando por ver este ofício como uma necessidade para a sua ocupação principal.

No humor, a pintura, o desenho, a fotomontagem, assim como os habituais cartoons revelaram-se essenciais para algum protagonismo. Nos anos 80, chegou a distorcer a imagem da princesa do Mónaco, recorrendo a um anúncio de uma marca de brandy, tendo sido processado pela própria. As revistas ‘O Cavaco’ ou ‘O Moralista’, mais recentes, refletiam essa vertente humorística em relação às artes gráficas, no seguimento de gostos assumidos pelo erotismo ou pelo sarcasmo.

À agência ‘Lusa’, Leonardo Vilhena afirmou que o seu tio “foi o autor incontornável de três ou quatro décadas do humor em Portugal. A sua obra, na tradição de Gil Vicente, Bocage ou Bordalo Pinheiro, é uma crónica dos tempos. Umas vezes pela crítica de costumes, outras vezes no olhar sobre a política, outras sobre a Igreja e quase sempre sobre a mulher”.

Afirmando-se “uma espécie de trapezista”, Vilhena, detido três vezes pela PIDE, foi abalado por uma juventude agitada. Diz o ‘vilhena.me’, apelidando-o de “incorrigível e manhoso” que “no liceu foi perseguido pelos professores que o chumbaram sempre que puderam”, “teve uma pneumonia” e foi “cumprir o serviço militar”, ao que se juntaram alguns episódios amorosos e a dependência do álcool. Nascido em Figueira de Castelo Rodrigo, na Guarda, estudou no Porto e fixou-se em Lisboa, onde falece no caminho para os 90 anos, deixando uma herança única à Cultura portuguesa.