Joshua Ferris, autor de “Então chegámos ao fim”, livro aclamado pela crítica e finalista do National Book Award 2007, regressou em 2011 com “Sem Rumo”.
Considerado um dos melhores autores com menos de 40 anos, Ferris traz-nos em “Sem Rumo” o retrato assustador de um homem despojado das suas defesas sociais que se vê sem controlo pelo seu corpo, pela sua mente e pela sua liberdade.
Tim Farnsworth é-nos apresentado como um advogado de sucesso, com uma família bem estruturada e com uma vida bem definida. Contudo, logo no início, é nos dado a perceber que algo de errado se passa. Ao longo dos primeiros doze, longos, capítulos é-nos explicada a doença de Tim, doença essa que a comunidade médica desconhece e que ele não consegue controlar.
Todo o livro, com exceção da terceira e última parte, centra-se na tentativa de descobrir o que causa as caminhadas involuntárias que Tim dá e que só terminam quando, exausto, Tim desfalece. É-nos relatado um sem número, na minha opinião, desnecessário, de episódios onde a doença de Tim se manifesta, onde este se revolta com esses surtos e onde a sua família se depara com o dilema de continuar a seu lado ou então de seguir as suas vidas sem ele.
A melhor parte deste livro acaba por ser as últimas cinquenta páginas onde Tim tem uma espécie de reencontro com a paz, onde ele “aceita” a sua patologia e aprende a viver com ela da melhor forma. É também onde Tim tenta regressar para a sua família, aprendendo a viver com eles de novo. Realmente, as relações familiares e amorosas existentes no livro são os pontos altos do mesmo. A forma como o autor consegue expor os sentimentos das personagens, a complexidade com que apresenta cada uma, a forma como as descreve e a relação que cria entre elas é qualquer coisa de extraordinário.
A história em si prende-nos de tão perturbadora que é, o enredo está brilhantemente pensado levando-nos a questionar o que temos como garantido. As personagens são inteligentes, tem um sem número de camadas que vão caindo ao longo da história, de forma muito natural. Por isso é realmente uma pena a forma como este livro está escrito e estruturado – de forma demasiado exaustiva, onde a história está demasiado dissecada e onde, a certa altura, o leitor acaba por esquecer o real assunto do enredo.
Sem Rumo, apesar de não ser das melhores obras de Joshua Ferris, merece a sua leitura, pois é um romance que trata do medo do desconhecido, da privação do ser humano de si mesmo e do poder das relações humanas. Mostra-nos a luta e a jornada existencial de Tim, mas que, facilmente, se estende a qualquer um de nós.
“Sem Rumo”
Joshua Ferris
Casa das Letras
2011