Valter Hugo Mãe, conceituado escritor português, vencedor do prémio Saramago de 2007 e prezado pelo próprio José Saramago, trouxe-nos em 2011 o seu quinto romance em prosa, “O filho de mil homens”, depois do muito aclamado “A máquina de fazer espanhóis”.
O livro fora muito badalado na comunicação social, proclamado como tendo traços autobiográficos do escritor, principalmente quanto à crescente frustração em não ter filhos aos 40 anos de idade (agora com 44). Valter Hugo Mãe reinventou-se depois de todos os seus livros anteriores, fugindo um pouco do estilo que quase nos fazia lembrar de Saramago, não cuidando a introdução “tradicional” de diálogos, e saiu da sua insistência em não usufruir em nada, ou quase nada, das letras maiúsculas.
A história começa por falar-nos da vida de Crisóstomo, um pescador de 40 anos que sonha em ter um filho. Ao longo do livro, são introduzidas várias personagens, umas de forma mais trágica do que outras, como é o caso do jovem Camilo, de Isaura e de Antonino, que vão compondo uma família, reunida de diversas e disfuncionais maneiras, mas repleta de amor e de vontade em vencer todas as dificuldades.
Valter Hugo Mãe demonstra todo o seu génio, ao levar-nos para um ambiente rural e antiquado que pensávamos já extinto, pleno de tradicionalismos e preconceitos, e disposto a tudo para ostracizar todos aqueles que atentem contra a “ordem natural”. O escritor leva a ridicularização de tabus a níveis que julgávamos impossíveis e ultrapassados, nomeadamente na questão da aceitação da homossexualidade; tudo para mostrar que, por muito que a sociedade se oponha contra nós, como se opôs à felicidade de uma mulher anã que surge na obra, e por muito que a ideia de que o sangue de uma família e o sagrado de uma religião se sobreponham a tudo, há sempre formas de sermos felizes à nossa maneira.
A quantidade de emoções vividas pelo leitor ao longo da história é impressionante. Apesar de momentos em que possam ser vistas certas acções como desnecessárias, especialmente em alturas mais transtornantes, ultimamente vemo-nos felizes (mas não completamente satisfeitos) com o resultado final de uma obra que não perderia nada se fosse dois parágrafos mais longa.
De leitura muito fácil, rápida, e acima de tudo – e este eu considero um aspecto fulcral na obra – familiar, puxando pelo nosso lado mais simplista, “O filho de mil homens” é recomendado como sendo um dos bons livros da literatura actual portuguesa, assim como é o que se segue na bibliografia do autor, “Desumanização”, e o anterior “A máquina de fazer espanhóis”.
O Filho de Mil Homens
Valter Hugo Mãe
Editora Alfaguara
1ªEdição – Setembro 2011