Em setembro, Joana Martins embarcou para a cidade inglesa de Manchester. É lá que, durante um ano de Erasmus, vai viver parte da sua vida académica. Após o primeiro ano da Licenciatura em Ciências da Comunicação na UMinho, Joana testemunha, ao fim de um mês e de forma algo emocionada, a sua experiência fora do país.

Pisei o chão. E tive a sensação que aquele último passo iria ser mais pesado do que todos os outros.

Foi.

Apercebi-me de onde estava. Não havia nada a fazer agora. Não podia voltar atrás. Estava ali e agora tinha de ir até ao fim.

Foi aí que me senti a afogar. A afogar num ciclo de pensamentos negativos que não conseguia controlar e que me levavam contínua e constantemente para a mesma conclusão: não consigo fazer isto.

Passou um mês e estou aqui. Continuo aqui.

O primeiro impacto foi sem dúvida o mais doloroso. Sentir que estava a entrar num novo mundo, num mundo à parte, onde sou sozinha e por isso conto somente comigo.

A tradição nestes textos não é escrever no início mas sim no fim. No entanto, senti que não estaria a ser honesta se escrevesse só no fim. No fim as coisas mudam. O nosso olhar muda, não olhamos para as coisas que nos assustam como assustadoras, mas como motivo de saudade futura em tempos de melancolia. Por isso, quis ser honesta e frontal.

A última semana antes de embarcar passou depressa demais. Todos os adeus e abraços pareciam não ser suficientes para a saudade que já sentia.

Chorei muitas vezes, antes, na viagem. E ainda agora.

Chorar não faz mal, mas custa, principalmente admiti-lo.

A viagem do aeroporto de Londres a Manchester foi passada com o olhar distante na janela, a observar as terras que agora faziam parte de um país onde eu morava enquanto combatia as lágrimas que teimavam em cair.

Quando cheguei à residência, a maneira como fui recebida dissolveu-me um pouco o nervosismo. Pela primeira vez, acreditei que conseguia fazer isto. Passou rápido essa sensação. De repente vi-me nesta cidade gigante, em que tudo acontece ao mesmo tempo, com uma diversidade cultural enorme e com uma pronúncia quase incompreensível.

De um momento para o outro tive de crescer e adaptar-me a uma nova realidade, por mais assustadora que parecesse.

A língua. Em Portugal aprender inglês nunca foi uma dificuldade, aliás sempre pensei ser bastante fluente. No entanto, assim que pisei o solo inglês, na obrigação de falar essa mesma língua como se fosse a minha primeira, as coisas revelaram-se diferentes. A língua enrolada, o nervosismo e o tropeçar constante nas palavras foram sintomas por mim sentidos sempre que tentava falar. À medida que o tempo foi passando as palavras pareceram cada vez menos complicadas, o nervosismo foi diminuindo e a língua pareceu não se enrolar tanto. Ainda não me sinto completamente confortável quando falo inglês e duvido que o sinta tão cedo, mas já não é tão assustador como era há um mês atrás.

O tempo. Antes de enveredar nesta aventura foram inúmeras as vezes em que recebi conselhos meteorológicos. Familiares, amigos, todos me desejaram a maior sorte para enfrentar o clima de Inglaterra, o que nos habituámos a ver retratado como chuvas abundantes e ausência de sol permanente. Um constante céu cinzento carregado de nuvens e chuva eterna. Contudo, Inglaterra surpreendeu-me. Desde que cheguei até ao dia de hoje que fui contemplada com chuva apenas duas vezes. O sol abraça-me quase todos os dias assim que saio de casa e as temperaturas ainda não são muito baixas. Em breve espero mudanças repentinas que irão ao encontro dos tantos avisos por mim ouvidos. Por enquanto abraço o sol.

O ensino. É tudo bastante diferente. O estilo de ensino é diferente ao que estava já habituada. A minha carga horária é menor, mas as cadeiras são pesadas. As oportunidades são mais e maiores. Desde a maneira como somos avaliados até às instalações da própria universidade é tudo diferente. Se tornar a refletir sobre a minha estadia talvez me estenda mais neste tópico. Porém, por agora, ainda me estou a adaptar.

Podia escrever muito mais. A lista de avisos e conselhos é extensa. Podia escrever sobre tudo o que gostava que me tivessem explicado antes de embarcar numa aventura destas. Como as pessoas são diferentes, mas nós não mudamos por estarmos noutro país. Como a comida sabe de forma diferente. Como as pessoas são amigáveis e todos os estereótipos concebidos se dissolvem por completo. Isto e tantas outras coisas. Coisas que sei que verei mais claramente dentro de dois meses. Coisas que sei que serão motivo de saudade deste ano, quando estiver no próximo.

É verdade que só há um mês que estou aqui. Mas as diferenças em mim são já palpáveis. Fui obrigada a olhar muitos dos meus medos nos olhos e confrontá-los, sem espaço para fugir, ou esconder-me.

Muitos dias tenho a sensação que saí de casa sem roupa. Estou completamente exposta. E se uns dias isso me aterroriza, há outros em que tudo vale a pena. Eu estou aqui e isto está a acontecer. E esta cidade gigante vai ser a minha casa durante um ano.

Se estás a ler isto e queres fazer Erasmus, faz. Os medos são todos naturais, as inseguranças também, mas assim que te vires numa cidade nova, cheia de pessoas diferentes, novas, com tanto para aprender, vai valer a pena. Não vai ser sempre bom, e não vai ser o que imaginaste, porque nunca o é. Vão haver momentos em que vais duvidar de ti como nunca o fizeste mas tudo isso é normal. Cada experiência é uma experiência e varia de pessoa para pessoa. Independentemente das expectativas fundadas no testemunho de alguém que passou pelo mesmo, a nossa experiência vai ser diferente, porque nós somos diferentes. E isso não tem mal. E isso é bom.

As coisas não correram como planeei. Isto não é como imaginei. Mas ainda bem que não o é, se não já o conhecia. Senão, não era o que está a ser. E estou ansiosa pelo que ainda aí vem. Pelos próximos oito meses que ainda estão para vir.”