Após sucessivos meses a adiar a estreia e com algum risco de cair no esquecimento, Da Vinci’s Demons, que já conta com dois Emmys, regressou a 24 de Outubro com uma nova temporada. Tal como o nome indica, a série relata a vida de Leonardo Da Vinci, num misto equilibrado de ficção e factos historicamente corretos. Leonardo é um génio e tem noção disso. Além disso, a sua mente apodera-se da lógica com uma facilidade enorme, sendo isso demonstrado por intermédio de ângulos e esquemas desenhados que se apoderam da tela e nos dão uma pequena ideia do que está a acontecer dentro da sua cabeça.

As personagens principais da série são compostas, no sentido em que temos a sensação que as conhecemos, isto é, que têm uma identidade forte e não são superficiais. No entanto, é possível que o facto de serem inspiradas em pessoas reais torne mais simples a criação de antecedentes que influenciam a personalidade da mesma. No caso de Leonardo, era ele um artista, inventor, esgrimista, amante, sonhador e idealista, no entanto, na série, são-lhe acrescentados certos traços que, apesar de distanciarem um pouco a personagem com a realidade, também a tornam mais captadora da atenção do público.

À medida que avançamos na série, apercebemo-nos gradualmente de tramas secundários, como por exemplo, toda a ação passada no Vaticano. Na presença do Papa Sixtus, transparece-se uma critica construtiva e bem estruturada, pois deriva da reação do espetador em relação ao que vê acontecer.

Não querendo correr o risco de escrever informação a mais sobre a história, aconselho só, para o futuro fã, que não procure em Da Vinci’s Demons uma espécie de documentário, porque não é o caso, visto que existem organizações fictícias como Sons of Mithras ou Labyrinth – apesar de a primeira ter por base princípios Mitraístas.

É regular ouvir queixas em relação às atitudes de Leonardo, sobre o pretexto de que é demasiado “século XXI”. Contribuindo para isso, temos o guarda-roupa, a limpeza dos dentes e o cabelo penteado. Para muitos visualizadores, esses elementos quebram a ilusão coletiva de que, durante 43 minutos, vamos todos viajar à Florença Renascentista pressionada pela igreja e aclamada pelo livre movimento artístico que corria a passos largos pelas ruas da cidade.Da Vinci's Demons 2013

Na generalidade, Da Vinci’s Demons merece ser vista pela história em si. Para além da esplêndida crítica tanto à religião como à sociedade, temos também a oportunidade de experienciar ambientes mais leves como os espaços de Andrea (mentor de Leonardo Da Vinci e outros famosos artistas como Botticelli) onde a arte nasce e, com ela, a competitividade. Contar a vida de Leonardo De Piero Da Vinci como documentário já seria deveras interessante, mas a dose de ficção é o que traz o elemento de imprevisibilidade e consequentemente agarra o público e cria-lhe a ânsia de saber mais, não só sobre a série, mas também sobre história propriamente dita.