Entre paredes forradas a livros, as cadeiras ficaram todas ocupadas, e muitos ficaram a espreitar à entrada da sala. A livraria “Centésima Página” fazia 16 anos, e encheu para receber o fotojornalista Alfredo Cunha. Veio apresentar, no passado dia 26 de novembro, o seu mais recente livro “Toda a esperança do Mundo”. Uma agregação de fotografias do próprio com textos de Luís Pedro Nunes, para celebrar os 30 anos da AMI.

De costas para as estantes dos livros de Filosofia, de frente para as de Literatura Lusófona e com várias dezenas de pessoas à sua frente. Foi assim que Alfredo Cunha, e o seu amigo Henrique Botelho, apresentaram o livro “Toda a esperança do Mundo”. O fotojornalista e o jornalista Luís Pedro Nunes agregaram reportagens feitas desde a Roménia ao Nepal.  O livro, lançado para celebrar os 30 anos de trabalho humanitário da Assistência Médica Internacional (AMI), foi apresentado no dia 26 de novembro, na livraria “Centésima Página”, em Braga.

Volumoso, pesado, com a face de uma criança na capa. As folhas de papel semi-mate apresentam uma cor ligeiramente champagne. É o que se pode perceber do livro, à primeira vista. Mas há mais. “Há diálogos em torno da esperança, ou da falta dela”. Henrique Botelho apresentou o livro, de pé, ao lado de Alfredo, após uma rápida leitura prévia. O livro retrata cenários de grande carência e violência, mas não é “miserabilista”. “Tem fotos de situações extremas, mas que conferem grande respeitabilidade aos atores, à altura dos grandes profissionais”.

“Os jornalistas, hoje, são alvo”

O fotógrafo Robert Capa foi invocado por Henrique para falar de Alfredo. O fotógrafo, que morreu ao pisar uma mina na Guerra da Indochina, tem uma célebre frase atribuída: “Se a tua fotografia não está boa o suficiente, é porque não te aproximaste o suficiente”. E Alfredo Cunha é um fotógrafo de proximidade, não usa teleobjetivas.

Foi assim desde a primeira reportagem com Luís Pedro Nunes, em 1991, feita num orfanato na Roménia. E esta jornada de 24 anos revelou-se perigosa. Muitos são os episódios que Alfredo partilha.

Entraram, com a ONU, numa aldeia do Níger, em que toda a gente era escrava, para os libertar. “Ia dando confusão”, conta Alfredo. Da primeira vez que os jornalistas estiveram no Iraque rebentou uma bomba ao seu lado e morreram 40 pessoas. Ainda em 2015, foram ao Haiti. É, para o fotojornalista, “o sítio mais perigoso do mundo”. “As armas automáticas são um clássico”. Tiveram mesmo guarda-costas de shotgun para os escoltar. “Os jornalistas, hoje, são alvo”.

“Esta é minha livraria”

Era um dia especial. A livraria “Centésima Página” fazia 16 anos. Os parabéns cantaram-se logo no início da sessão. É o sítio de eleição de Alfredo para comprar livros, mas também para tratar de “problemas de ego”. Há sempre um livro dele na montra virada para a Avenida Central. Naquele dia tinha três.

No final, Alfredo atendeu a longa fila de admiradores que esperavam por uma dedicatória no livro que haviam comprado. Isto, enquanto se cantava novamente os parabéns. Mas desta vez havia bolo para se partir.

 

Texto: Pedro Gonçalo Costa

Fotografia: Ana Maria Dinis