“Enemy”, de Denis Villeneuve (realizador do também excelente “Prisoners”), cativa, intriga e põe massa cinzenta a trabalhar.

Com inspiração no nosso querido José Saramago e na sua obra “O Homem Duplicado”, este thriller de 2013 coloca-nos em pleno suspense até ao segundo final.

É-nos apresentada a história do professor Adam Bell (Jake Gyllenhaal), um homem preso numa rotina diária e monótona, que um dia decide assistir a um filme sugerido por um colega de profissão. Depois de o ver, Adam fica convencido de que um dos atores secundários que contracena nesse filme é fisicamente muito similar a si próprio. Após alguma pesquisa, decide partir em busca do seu “sósia”, desta vez na vida real. Ao contrário de Adam, que tem uma relação um pouco atribulada com a sua namorada, o seu “sósia” Anthony é um ator muito pouco reconhecido e casado com Helen (Sarah Gadon), à qual tem alguns problemas em se manter fiel.

O que, no início, parece construir uma história linear e simples, transforma-se numa trama de enigmas e mistérios, onde cada pista que nos é fornecida traz uma nova pergunta. Torna-se, à medida que se vai desenrolando, mais surreal e profundo, entrando numa pirâmide de confrontos psicológicos entre Adam, Anthony, e as pessoas que fazem parte das suas vidas.

Arrisco-me a afirmar que nada neste filme foi captado sem qualquer intenção ou propósito. Símbolos, músicas de fundo, metáforas, tudo é lançado a seu tempo e tudo tem uma ligação ao enredo, ajudando a construir a teia que este belíssimo pedaço de hora e meia me fabricou dentro da cabeça. Enroscou-me na sua inteligência magistral e no seu minucioso simbolismo pormenorizado, e as constantes reviravoltas pregaram-me à cadeira.

Foto: chud.com

Foto: chud.com

É um dos filmes mais inteligentes aos quais já tive o prazer de assistir, pois teve-me na palma da mão desde o primeiro minuto. Surgiram-me várias teorias sobre algumas perguntas que o filme me provocou e teve o condão de me colocar, no final, à pesquisa sobre o filme. O que é raro, confesso. Contudo, é um pouco incompreendido, pois não é um filme “normal”, não tem uma história linear e não é fácil de perceber à primeira.