Depois de “Equador” e “Rio das Flores”, obras aclamadas pelo público, Miguel Sousa Tavares lançou, em 2013, “Madrugada Suja”.
A mais recente obra de Miguel Sousa Tavares começa de maneira impactante: em Évora, no ano de 1988, três universitários e uma jovem desconhecida divertem-se em festas regadas com muito álcool numa noite que termina numa tragédia. O autor descreve esta parte inicial de uma forma intensa que nos deixa ansiosos por mais. Contudo, este “mais” tarda em chegar e, quando chega, desilude. A obra traz-nos o fantasma de uma noite que deveria ter sido esquecida mas que, anos depois, voltou para assombrar Filipe, o protagonista deste enredo. Paralelamente, Miguel Sousa Tavares (MST) leva-nos a uma viagem por Portugal, desde a revolução de 1974 até aos dias de hoje, passando pelo mundo da política e corrupção.
Mesmo sabendo que se trata de um livro e de uma história completamente diferente, é quase impossível não haver uma tentativa de comparação com “Equador”, lançado em 2003. Esta obra é brilhante, quer pela escrita, quer pelo enredo, quer pelas personagens. Talvez seja por isto que “Madrugada Suja” fique aquém das expectativas. Não é um mau livro, mas falta-lhe a intensidade que leva a que um leitor se prenda a ele. Falta-lhe essência, falta-lhe algo que Miguel Sousa Tavares costuma impregnar nos seus livros e que, por algum motivo, “Madrugada Suja” não tem.
A parte mais interessante da obra acaba por ser a história de um Portugal de há muitos anos, de um povo de antigamente e de um, totalmente diferente, que encontramos nos dias de hoje. A história do que fizemos para chegar onde chegamos e do que, de alguma forma, conseguimos alcançar. Em contrapartida, MST parece esquecer-se da parte romântica do livro, levando a que “Madrugada Suja” seja uma narrativa e não uma história. As personagens são básicas e lineares. MST escreve-as baseando-se em estereótipos puros, como um candidato a primeiro-ministro que é corrupto ou o idoso que não quer abandonar a sua terra. Não esquecendo o casal amoroso que não funciona, de todo, no enredo.
“Madrugada Suja” é uma história feita de várias histórias, que permite uma leitura rápida, mas que, após a sua conclusão, deixa o leitor à espera de algo que nunca chega. Contudo, a escrita direta e simples e a forma subtil com que, às vezes, Miguel toca em assuntos difíceis, que dizem respeito a problemas dos dias de hoje e de um antigamente, é motivo suficiente para que se deva ler esta obra.
“Madrugada Suja”
Miguel Sousa Tavares
2013
Clube do Auto