Life is Strange é uma aventura gráfica em cinco episódios que será imediatamente familiar para quem tiver jogado os jogos da Telltale Games, como The Wolf Among Us e The Walking Dead. Mas apesar da longa experiência que a Telltale tem com o género, a Dontnod conseguiu sem dúvida superar os supostos mestres do estilo: a história do jogo, que me faz pensar numa cria fofinha que surge de um cruzamento entre Twin Peaks e Donnie Darko, é deliciosa e a sua execução ao longo dos episódios é quase perfeita. Como se isto não bastasse (e acreditem quando digo que bastava), a Dontnod conseguiu evitar dois problemas que tendem a assombrar os jogos da Telltale: não só o impacto das nossas decisões parece ser palpável em Life is Strange, como é frequente termos de pensar para determinar exactamente qual é o melhor rumo a tomar ou como resolver o problema com que nos deparamos.
A melhor maneira de explicar como isto se dá é falando na nossa protagonista: Max Caulfield, uma estudante do 12º ano e aspirante a fotógrafa na Academia Blackwell, situada na cidade costeira de Arcadia Bay. Pouco depois do início do jogo, após testemunhar um homicídio na casa de banho da escola, Max dá repentinamente consigo alguns minutos no passado. Depois de alguns momentos de confusão, descobre que tem uma capacidade limitada de “rebobinar o tempo” — é este poder que vai ser a nossa ferramenta principal ao longo do jogo.
As decisões que tomamos no jogo não ficam automaticamente “escritas em pedra”. Podemos voltar atrás, experimentar, tentar ver quais são os resultados das outras opções e, por vezes, até mesmo descobrir opções adicionais que não eram inicialmente conhecidas. A experimentação com a viagem no tempo também é usada para resolver enigmas e até mesmo para meras “brincadeiras” que não afectam em nada a narrativa. No entanto, ajudam a criar um mundo mais vivo e a desenvolver as personagens do jogo. E que personagens! Life is Strange parece tentar enganar-nos com elas — fora a nossa protagonista, todas as personagens que conhecemos parecem encaixar-se em arquétipos típicos de filmes de adolescentes. Contudo, não passa tudo de uma ilusão. À medida que as vamos conhecendo, vão surgindo novas camadas que nos mostram que as pessoas não são propriamente o que parecem à primeira vista e que não as devemos julgar pelas aparências… Enfim, como acontece habitualmente no dia-a-dia!
Se estivesse a escrever esta crítica antes do lançamento do último episódio de Life is Strange, aconselharia o jogo com todo o meu ser! O quinto episódio, lançado recentemente, foi um balde de água fria inesperado que contaminou quase irreversivelmente o meu apreço por esta obra. A história muda de foco e passa a ser menos sobre as várias experiências que fomos “vivendo”, para se centrar num elemento importante que fazia mais parte do cenário narrativo do que da história principal. E grande parte disto é-nos contado através de sequências “fora da realidade”, nas quais nos são feitas miraculosamente revelações de uma maneira que nem chega a fazer muito sentido.
Pior ainda, no quinto episódio, temos aquilo que é para mim o pecado capital nos jogos que nos permitem tomar decisões que afectam a história: no fim de tudo, o que conta é uma única última decisão binária que leva a um de dois fins, ambos insatisfatórios para a aventura que até então vivemos.
Life is Strange fez-me crer que desta vez as minhas decisões iriam afectar algo no plano geral da narrativa. No fim, foi tudo (literalmente) irrelevante.
Aconselho Life is Strange pela longa e agradável viagem, mas deixo o aviso de que as últimas horas podem fazer-vos desejar que tivessem ficado pelo caminho.
Life is Strange
Género: Aventura Gráfica
Produtora: Dontnod Entertainment
Editora: Square Enix
Plataformas: Playstation 3, Playstation 4, Windows, Xbox 360, Xbox One
Data de Lançamento: 30 de janeiro de 2015, último episódio lançado a 20 de outubro de 2015