Antónios há muitos. Variações só há um. Homem de voz tremida e barba grisalha que um dia quis ser barbeiro, mas que se tornou num dos maiores ícones da música portuguesa.

António Variações celebraria, hoje, 71 anos. Aqueles que se cruzavam, em Amares, com “Tonito”, alcunha carinhosamente dada pela mãe, não imaginavam o sucesso e popularidade que, hoje, lhe é reconhecido. Mas Variações acreditava nas qualidades que julgava ter. O jornalista Sandro Santos conta que o músico “gostava de espetáculo e de ser o espetáculo. Prometia sê-lo até a ‘varrer as ruas da cidade’ ”.

Nascido em 3 de Dezembro de 1944, em Braga, António Joaquim Rodrigues Ribeiro foi um emblemático cantor e compositor português nas décadas de 70 e 80. Era homem muito viajado para a época o que viria a inspirar alguns dos temas que compôs.

Era a “vontade de partir p’ra outro lugar”, como canta em Estou além, que fazia o músico viajar. Foi em Amesterdão que Variações aprendeu a arte de ser barbeiro. Profissão que veio a dar continuidade em Lisboa enquanto ganhava notoriedade como músico. Chegou a abrir uma barbearia chamada “É pró Menino e prá Menina”, local onde a sua imagem sobressaia pelas roupas invulgares e pelos acessórios irreverentes. O que mais o fascinava era o corte e não o penteado. E era o corte com os preconceitos, com o comum e com o consensual que marcava a aparência física e o estilo musical do ícone pop português.

De regresso, António foi várias vezes confundido com um estrangeiro. Sentia-se “estranho” e “perfeitamente só”, em Portugal. “No entanto, nunca abdiquei de ser o que sou, e só comecei a ser recompensado por essa atitude quando houve pessoas que vieram ter comigo e me disseram ter sido eu o ponto de partida para uma estética de que elas gostavam, mas não eram capazes de assumir”, esclareceu o cantor numa entrevista.

Em 1978, Variações apresentou um EP à editora Valentim Carvalho. Precisamente nesse ano assina contrato. Tendo como referência a fadista Amália Rodrigues, Variações editou o primeiro single com os temas Povo que Lavas no Rio e Estou Além.

O primeiro LP, composto por dez faixas da sua autoria, foi gravado no ano de 1983. Em Anjo da Guarda destacam-se os êxitos É p´ra Amanhã e O Corpo é que Paga.

Dar e Receber, o segundo LP do cantor, foi publicado em 1984. E foi nesse ano que António deu o seu último concerto, em Barcelos. Só apareceria uma vez mais em público, no programa A Festa Continua, de Júlio Isidro.

Quando António Variações já se encontrava internado no hospital, despoletou nas rádios aquele que viria a tornar-se um dos maiores êxitos do rei do pop português, a Canção de Engate. Variações faleceu a 13 de Junho de 1984, dia de Santo António, vítima de uma broncopneumonia provocada pela SIDA. “Ainda hoje não sabemos que cometa era aquele”, confessa o jornalista Miguel Cadete. Apesar do estrelato repentino do ícone pop, a obra o cantor amarense perdura geração após geração.