Numa entrevista ao jornal Cinéfilo, em 1932, Beatriz Costa equacionava, descontraidamente: “Não sei se o dezembro de 1907 corria invernoso e frio ou se a Primavera se antecipou, desejosa de florir o meu nascimento…”. Beatriz Costa é, discutivelmente, um dos símbolos do cinema e do teatro portugueses do século XX. A atriz comemoraria, hoje, o seu 108.º aniversário.

O mundo do espetáculo esteve, desde cedo, na mira de Beatriz da Conceição, nome verdadeiro da atriz. Era espetadora frequente do Parque Mayer. E logo se enamorou pela ideia de pisar um palco e ter uma plateia que se levantasse para a aplaudir. E não demorou muito para que isso acontecesse. Um cliente e amigo de um cabeleireiro vizinho do seu padrasto, Fernando Pereira, fez chegar essa vontade à atriz Ema de Oliveira, que escreveu um bilhete de apresentação ao administrador do Éden Teatro. Aí Beatriz começaria a sua carreira. Aos 15 anos, em 1923, fez a sua primeira participação teatral, em Chá e Torradas.

Em exibição na época, no Éden Teatro, em Lisboa, a revista ‘Rés Vés’ (1924) revelou-se um sucesso. Luís Galhardo, fundador do Parque Mayer, descobrindo o talento da atriz, atribui-lhe o nome oficial de Beatriz Costa.

“Eu sei que não me amas por não ser de prata e que me desprezas por ser só de cobre”, cantava Beatriz no tema A Agulha e o Dedal. A verdade é que Beatriz Costa ficou na memória da cultura popular portuguesa como ouro.

Apesar de se ter iniciado no teatro, o seu reconhecimento dá-se em 1933, com A Canção de Lisboa. Depois de Chá e Torradas e Rés Vés, sucederam-se muitas outras peças como Fado Garoto, Ditosa Pátria e Fox Trot. A 1927, surge pela primeira vez no cinema, em Fátima Milagrosa, do realizador Manoel de Oliveira. No meio cinematográfico, para além d’A Canção de Lisboa, são exibidos, ainda hoje, outros exemplares no canal televisivo RTP Memória como Aldeia de Roupa Branca.

Viajou duas vezes para o Brasil, foi gravar a França e fez sucesso em Espanha. Conheceu figuras de renome como Salvador Dalí, Pablo Picasso, Greta Garbo, Édith Piaf ou o Rei Hassan II de Marrocos.

Nascida a 1907, em Mafra, viria a deslocar-se com a sua mãe para Lisboa aos quatro anos. Desempenhou o ofício de ajuntadeira, em casa, e, mais tarde, de bordadeira, tendo aprendido apenas aos 13 anos a ler e escrever. Encerrou a sua carreira na representação, em 1960, com Está Bonita a Brincadeira. Escreveu vários livros autobiográficos, com a ajuda de autores como Almada Negreiros ou Aquilino Ribeiro, e gravou um álbum musical de êxitos.

Faleceu a 15 de abril de 1996, deixando uma marca histórica no mundo do teatro popular e do cinema portugueses.