Jack Soul Deans é o nome pelo qual é conhecido o artista bracarense Bruno Guedes. Em 2015, fez uma promessa às crianças de Santa Tecla, grafitar um mural na zona desportiva da freguesia. A promessa foi cumprida em outubro.
Em novembro, os ataques a Paris despoletaram em Jack Soul Deans a vontade de criar uma pintura de homenagem às vítimas que acabou por ser publicada pelo P3.
Em entrevista ao ComUM, Bruno Guedes fala em pormenor destes projetos e dos que tem programados para 2016.
ComUM: Como é que surgiu a paixão pela arte urbana?
Bruno Guedes: Esta vertente de arte é, em si, uma paixão. Apaixonei-me pela sua simplicidade e natureza… Por causa da falta de estímulo que existe para a Cultura e a Arte, na sociedade atual, os artistas precisam de levar para a rua as suas obras, os seus trabalhos, para que consigam marcar pela diferença. É nisto a Arte Urbana é maravilhosa. E é isso que faço. Esta nudez entre o trabalho do artista e quem o observa na rua ganha outro peso, outra relevância.
ComUM: Fale-nos sobre o mural que fez recentemente em Santa Tecla, Braga.
BG: O mural que realizei em Santa Tecla foi uma promessa que fiz a um grupo de crianças e jovens que por ali parava. Como o espaço em redor é desportivo, acaba por merecer algum cuidado e a proximidade com a ciclovia faz com que seja um ponto onde várias pessoas passam. Juntei o útil ao agradável e senti necessidade de contribuir, de alguma forma, para a regeneração daquele espaço. Sinto que alcancei o objetivo, porque não deixei de realizar a promessa que fiz.
ComUM: Como é que a comunidade bracarense vê a arte urbana?
BG: Penso que as pessoas, hoje, compreendem melhor a capacidade da arte urbana e que nem tudo o que é feito numa parede é vandalismo. A cidade não tem de ser tão cinza. Podemos colori-la, respeitosamente.
ComUM: Pretende, com as suas obras deixar uma mensagem?
BG: Até ao momento, as minhas obras surgem com a vontade de mudar a forma como as pessoas observam a Arte, fazê-las ver e imaginar.
ComUM: Qual a mensagem que tentou passar com a pintura que fez em homenagem às vítimas dos ataques a Paris?
BG: Essa pintura tem alguns pontos interessantes. Em primeiro lugar, é uma pintura que já tinha idealizado na minha mente mesmo antes dos ataques ocorridos em Paris. Isto porque o 13 de novembro era algo que todos sabíamos que viria a acontecer. Mais em concreto, a pintura, em termos de cores, refere-se à bandeira francesa. Escolhi a imagem de São Dionísio, pois, sendo considerado um mártir cefalóforo, oferece conexão com o que o Estado Islâmico faz, com a forma como executa as pessoas.
ComUM: Têm existido barreiras à realização das suas obras?
BG: Sinto dificuldade em criar condições mínimas para a execução dos murais e em conseguir apoios para os mesmos. Ainda existe um travão inocente no processo. Penso que para a simplicidade que o gesto de realizar street art envolve, podia ser mais facilmente articulado todo o processo burocrático anexo. Situação que se torna, na minha opinião, um ponto negativo para Braga.
ComUM: Braga é uma cidade fortemente marcada pelo graffiti?
BG: Não considero Braga fortemente marcada pelo graffiti. Pelo contrário, penso que o graffiti tem uma dimensão pequena na cidade. O vandalismo, esse abunda.
ComUM: Tem em mente próximos projetos?
BG: Tenho três projetos em vista. Estive três anos a lutar por um projeto que apresentei na Câmara Municipal de Braga e que finalmente foi aprovado. Trata-se de um projeto que realizo através da BragArtes e que consiste em trazer a Braga artistas de relevância, a nível nacional e internacional, do mundo da Street Art, no verão.
Os restantes projetos consistirão na execução de um mural e na realização de uma exposição com o tema “Amor a Braga”.
Texto: Carolina Ribeiro e Filipa Castro Gomes