Assustada. É assim que se sente grande parte das pessoas. Não saímos à rua sem pensar que algum ato terrorista se pode suceder. Não só em Paris, mas também nos restantes países da Europa ocidental se sente o medo de mais um atentado à liberdade dos inocentes.

Depois do massacre ao jornal satírico Charlie Hebdo, Paris volta a ser alvo de mais um ataque à liberdade. Os ataques de novembro deste ano consistiram em fuzilamentos em massa, atentados suicidas, uso de reféns e explosões. O terror instalou-se. Neste sentido, pergunto-me onde está a liberdade, especialmente a de expressão, que é condição essencial da cultura das sociedades ocidentais.

Mas falemos primeiramente de Paris. A Revolução Francesa de 1789 proclamou ao mundo os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Estas três simples palavras alicerçam os ideais de sociedade que construímos nos últimos dois séculos, bem presentes nas democracias liberais que se disseminaram por todo mundo. Mas, atualmente, duvidamos que assim seja e pensamos nestas ideias como sendo utópicas, porque a liberdade está cada vez mais a ser posta em causa com o objetivo de garantir, sobretudo, a segurança.

François Hollande, Presidente da República Francesa, já colocou França sob estado de emergência nacional durante, pelo menos, três meses. As fronteiras foram temporariamente encerradas e cerca de 1500 soldados foram chamados para ajudar a manter a ordem em Paris. Também a chanceler alemã se mostrou chocada com os atentados, bem como o Presidente da República portuguesa, Aníbal Cavaco Silva, que enviou um telegrama ao presidente francês a demonstrar a angústia causada pelos ataques terroristas, medida tomada também pelo presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk e por Dilma Rousseff, presidente da República Federativa do Brasil. É também de salientar a preocupação de Ban Ki-moon, secretário-geral das Nações Unidas, que classificou os ataques como “desprezíveis”. Barack Obama, presidente dos Estados Unidos da América, também já reforçou a cooperação contra o terrorismo, lembrando, inclusivamente, os atentados de 11 de setembro de 2001.

De acordo com a Declaração dos Direitos do Homem, todos os seres humanos nascem livres e com direito à liberdade de pensamento, de consciência, de religião, de opinião e expressão, de reunião, de voto. Enfim, têm direito a todo o tipo de liberdades civis e políticas. No entanto, sabemos que a nossa liberdade acaba quando pomos em causa a liberdade de outra pessoa, ideal intrínseco ao povo francês, sendo que já Simone de Beauvoir dizia: “querer-se livre é também querer livres os outros”. Indo contra tal pensamento, o Estado Islâmico continua a querer reivindicar as suas ideias e crenças através da força, da violência e da opressão.

Na Turquia, por exemplo, os curdos representam cerca de 15% da população, o que faz deles a maior minoria étnica do país. Os ativistas dos direitos humanos curdos são, contudo, maltratados, perseguidos e não lhes é permitido formar qualquer partido político. São várias as técnicas utilizadas para suprimir a sua identidade étnica, nomeadamente a proibição do uso da língua curda, a recusa em registar crianças com nomes curdos, a proibição de negócios que não tenham nomes árabes, a proibição de escolas privadas curdas e a proibição de livros e outros materiais escritos em curdo. Poderia falar de mais, mas acho que por aqui já se entende a falta de liberdade que este povo tem, quer na Turquia, quer nos outros países em que se encontra espalhado, especialmente no Iraque em que o povo curdo, ameaçado pelo Estado Islâmico, se constitui como única forma de combate ao mesmo.

Parece-me que não podemos falar nos atentados à liberdade apenas em Paris, visto que estão espalhados por quase todo o mundo, ainda que de forma menos notória. Nós, portugueses, que nem temos muitas razões de queixa, começamos já a sentir o temor de mais um atentado, de mais um massacre, de mais uma rebelião. É claro que sempre existiram guerras e conflitos, mas estamos em pleno século XXI e o medo começa a espalhar-se por toda a parte, incluindo nas figuras de autoridade, que se veem sem mãos a medir. Pergunto-me então, perante o panorama de autoridades angustiadas, como está a segurança a nível europeu, sem falar a nível mundial. Os atentados parecem-me sempre muito bem planeados. O terror planeia-se, mas a liberdade não.

Coincidência ou não, o mais recente atentado em Paris ocorreu numa sexta-feira, 13 (de novembro), altura da semana em que as manifestações culturais parisienses (algo que estes radicais abominam) atingem o seu auge.

Em jeito de conclusão, deixo a questão de Bocage, que está em consonância com a minha: “Ah! Se a vossa liberdade/ Zelosamente guardais,/ Como sois usurpadores/ Da liberdade dos mais?”.