"Orgulho e Preconceito" não é, como em inúmeros romances que existem, uma história de amor à primeira vista. É, como escreveu Marilyn Butler, uma história de “ódio à primeira vista”.

“Orgulho e Preconceito”, de Jane Austen, traz-nos a história de Elizabeth (Lizzie), filha dos Bennet (uma família de classe média), que conhece Darcy, um importante aristocrata. Lizzie e Darcy vêm de classes sociais diferentes. As primeiras impressões um do outro não foram as melhores e não suportavam a presença um do outro. A história de ambos tinha tudo para dar errado. Mas não deu.

O enredo retrata fielmente uma sociedade dos séculos XVII e XVIII, bastante marcada por jogos de interesses e pela relação de amor-ódio dos protagonistas. Elizabeth é-nos apresentada como uma menina com consciência feminista, progressista e com opiniões fortes. “Orgulho e Preconceito” é, neste sentido, um livro anti conservador (ao contrário de “Sensibilidade e Bom Senso”, onde a hierarquia social está bem definida). Os leitores contemporâneos tendem a ler “Orgulho e Preconceito” como se a história principal fosse sobre os dois protagonistas, vindos de mundos diferentes com defeitos (e qualidades) distintos, onde Darcy está “contra” Elizabeth até ao dia em que o amor é mais forte. Na minha opinião esta interpretação é, ligeiramente, incorreta. Se existe um tema central neste romance, é uma reflexão brilhante sobre a forma como as primeiras impressões, as ideias apressadas que construímos sobre os outros, acabam, muitas vezes, por destruir as relações humanas. Aliás, não é por acaso que o primeiro título que a autora deu a esta obra foi “First Impressions”. Claro que o romance entre os protagonistas ajuda, muito, ao desenvolvimento do tema, mas não é o mais importante daqui a retirar.

“Orgulho e Preconceito” não é, como em inúmeros romances que existem, uma história de amor à primeira vista. É, como escreveu Marilyn Butler, professora na universidade de Cambridge e uma importante crítica de Austen, uma história de “ódio à primeira vista”. E a principal lição a retirar desta obra é que amor à primeira vista, ou ódio à primeira vista, acabam por ser a mesma coisa: formas fáceis e rápidas de classificar os outros e de nos enganarmos a nós próprios. No romance, Elizabeth despreza a arrogância de Darcy sem perceber que essa arrogância, às vezes, funciona como uma forma de defesa: “o amor assusta mais do que todos os fantasmas que habitam o coração humano”. Darcy despreza Elizabeth porque Elizabeth é uma ameaça ao seu conforto social e até sentimental. Elizabeth e Darcy não são personagens divergentes. Eles são, no seu orgulho e preconceito, personagens rigorosamente iguais. A construção das personagens em “Orgulho e Preconceito” é qualquer coisa de fantástico. A complexidade com que elas são apresentadas, a forma como elas se vão desdobrando ao longo da história. A maneira como vivem, agem, falam e pensam mostra a genialidade de Jane Austen. O texto é denso, com uma linguagem arcaica que leva a que seja necessário uma entrega ainda maior por parte do leitor, contudo o enredo e maestria de Austen acabam por compensar o esforço. O romance foi pensado e construído de forma minuciosa. Austen tem a capacidade única de construir romances e nos fazer apaixonar por eles. Prova disso, é que, duzentos anos depois do lançamento desta obra, o romance de Lizzie e Darcy continua a ser um dos mais aclamados pelos leitores.

É, certamente, um livro que recomendo. “Orgulho e Preconceito” é um livro obrigatório, por ser um clássico da literatura, por ser uma crítica, e reflexão, única da sociedade da época e por ser da autoria de Jane Austen, uma escritora brilhante.