Já batiam as 21h30 quando o público entrou. Eram pais e filhos, espanhóis e portugueses, todos juntos para falar numa só linguagem, a linguagem de António Variações.

Lá em cima, uma senhora de chapéu e blusa brilhantes. Cá em baixo, um hipster perdido entre a multidão que tenta encontrar o seu lugar. Assim começava mais um concerto no Theatro Circo. Mas desta vez era especial. Em pouco mais de uma hora, o desafio era trazer Variações de volta um dia após a comemoração da sua morte.

As cadeiras foram rapidamente ocupadas uma a uma. De repente, as luzes da grande sala fecham. Os holofotes acendem em tons de azul e laranja e Samuel Úria entra. Consigo trazia os músicos Tiago Cavaco, conhecido como Guillul, João Eleutério e David Pires.

O concerto de homenagem a António Variações começa com gritos fortes de guitarra elétrica e o som frio da bateria com o tema Santo Pop. António variações era, assim, “canonizado” por Samuel Úria num concerto sentado onde velhos e novos ouviam discursos faseados sobre o ícone do pop português.

Úria não poupou elogios a Variações, porque “muito provavelmente não estaríamos a fazer as músicas que fazemos se António não tivesse cá estado”. Um concerto que segundo o cantor só faria sentido se fosse feito na ”Big Apple dos Arcebispos, que tem tanto da Nova Iorque assustadora dos anos 70 e 80, como do colorido minhoto intemporal. Folclore a rebentar pelas costuras, pop proscrita, rock enrole em verde tinto”.

A alegria de Variações renascia mais tarde com a entrada do cantor Rui Pregal da Cunha que dançava a um ritmo frenético. O antigo vocalista e fundador dos Heróis do Mar caminhava de um lado para o outro de microfone na mão com um instrumental que fazia relembrar os anos 80. Rui Pregal Cunha voltaria a entrar novamente em palco trajado com o que parecia um pien fu para cantar Glória do Mundo dos Heróis do Mar.

A cantora Selma Uamusse foi a última a subir ao palco do Theatro Circo para homenagear António Variações. Não arrastes o meu caixão foi o tema cantado pela vocalista moçambicana acompanhado pelo som triste da guitarra elétrica de Samuel Úria.

De repente, as luzes acendem-se e Samuel pega no microfone. Uma última surpresa marcaria aquele concerto. A senhora de chapéu e blusa brilhantes desce as escadas do Theatro Circo. É Maria de Lurdes, irmã de António Variações. A cappella canta o tema Estou além. A ela juntam-se as vozes de uma plateia inteira. O concerto acaba entre assobios de um auditório que sentiu obrigação de aplaudir em pé Variações.

 

Texto: Judite Rodrigues

Fotografia: Matilde Quintela