Os pioneiros do djent, Periphery, eram, para mim, apenas uns americanos desconhecidos. Lançaram, em Janeiro deste ano, o álbum “Juggernaut: Alpha” e dei-lhes uma oportunidade.

A primeira parte de um disco duplo que mistura screemo com batidas fortes, influenciadas por bandas como ‘Porcupine Tree’ e ‘Veil of Maya’ (cujos concertos de uma tour foram abertos por ‘Periphery’), assemelha-se a uma tempestade. Começa com “A Black Minute”, que me capta a atenção. Uma pequena semelhança a Pink Floyd diz-me que este álbum pode realmente abrir muitos horizontes para o metal.

À medida que a música se conclui, penso que o metal nem é assim tão violento. E aí irrompe a tempestade: “MK Ultra” inicia, sem hesitação, uma música de força, com melodias meio sádicas (psicadélicas talvez) e termina mais soft, parecendo uma música de elevador com subtis toques de jazz.

Lançado a 27 de janeiro de 2015, este álbum mostra o contar de uma história livre de interpretação. A diferença entre músicas mais calmas e outras mais fortes, momentos mais ou menos intensos, é marcante e única, que podemos comparar aos melhores e piores momentos que vivemos numa vida. O conto pode falhar no final feliz e romântico, mas essa “lacuna” é colmatada por poemas indiscutivelmente fortes, igualmente intensos, que falam de episódios sangrentos e recreativos (“you can finger paint with blood on your hands” presente em ‘MK Ultra’), lugares escuros, tirados à força de um cérebro que vive um pesadelo rumo à morte.

O heavy metal demonstrado pela banda existente desde 2005 é… pouco delicado: destaco dois instrumentais fortíssimos: “The Event” e “Four Lights”.

Há uma menção a uma tentativa escapatória deste mundo, para onde estejamos sós, por Spencer Sotelo, o vocalista: uma voz interessante, semelhante a Chester Bennington, vocalista dos ‘Linkin Park’. A banda, que teve já imensos elementos cuja participação foi efémera, conta com um vocalista, três guitarristas, um baterista e um baixista.

Neste álbum, o mais difícil de assimilar é, para mim, a extrema revolta que as letras e as batidas trazem, mas é de admirar a forma como também é isso que acaba por nos prender. O single é “Alpha”, que nos chama para o tema de “aproveitar a vida”, enquanto que “Omega” (o yin, para o yang de “Alpha”), fala-nos de demónios, em sonhos e realidade… E afinal, onde ficamos? Somos guiados para a luz ou escuridão?

“Ao fazer um disco assim, mais do que uma atitude em música, queremos encorajar as pessoas a fazer aquilo que lhes parece correto, para se expressarem verdadeiramente, ao invés de comprometerem aquilo que, na realidade, querem”, diz Misha Mansoor, um dos membros originais da banda. Não é isso que, afinal, os músicos fazem? Construir a tempestade que tanto ambicionavam?