Um concerto entre Odivelas e Braga. Allen Halloween trouxe o lado mais negro dos bairros sociais ao auditório pintado de dourado do Theatro Circo. Na passada sexta-feira, 22 de janeiro, Braga recebeu a apresentação do álbum Híbrido e o rapper conseguiu levantar a plateia.
No palco escuro do Theatro Circo, só os holofotes vermelhos sobre a mesa que estava no centro davam cor ao palco. Não demorou muito até que o DJ entrasse e a soltasse um beat marcado pelos sons graves e pelos scratches. Ali estava solitário, aquecendo a entrada de Allen Halloween e os seus “kriminals”. O hip-hop era o prato da noite naquela sexta-feira, 22 de janeiro, no auditório do Theatro Circo.
A luz acendeu e os MC’s entraram. Allen puxou do primeiro álbum, Projeto Mary Witch, para começar a única hora de concerto que tinha reservada. “Mary bu” foi a escolha do rapper de Odivelas. “Como é que é Braga, ‘tá-se bem?”, cumprimentava Halloween a sala bem composta.
Depois do regresso a 2006, foi a vez de “Mr. Bullying”, que compõe o afamado disco Híbrido, de 2015. A história sonhada, a partir do recreio da escola, foi o quebrar do gelo. As sombras de braços levantados na plateia a completar os versos de Halloween rasgavam no escuro.“Odeio ir à escola, odeio adolescentes / Odeio-me a mim próprio, odeio toda a gente”, ouvia-se.
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Marcado pela vida de bairro, Allen pontua os seus trabalhos com um olhar de cronista, revelando grande atenção ao estado decadente daquilo que se passa ao seu redor. Não ficou confuso com o dourado da sala bracarense e atirou às desigualdades. “Jovem africano do bairro social / Quais são as tuas chances mano / Em Portugal?”, cantava uma das mais calmas da noite – “Marmita boy”.
Chegava a hora de dizer que o doutor lhe deu “Drunfos”. O clássico do disco, de 2011, “A Árvore Kriminals”, fez com que a sala do Theatro se tornasse irreconhecível. Mal terminou o tema, todos se levantam e mais ninguém se sentou até ao fim.
Cabeças a abanar e mãos no ar, foi assim que plateia se desenhou. Allen continuava em 2015, agora com a “Bandido Velho”. “Quem não arrisca não petisca / É verdade / Mas não há melhor petisco do que a liberdade”, e ouviu-se mais uma ovação às palavras do rapper.
Allen não esqueceu os temas mais conhecidos. “Killa me” e “Fly Nigga” tocaram-se uma atrás da outra, e já se viam pessoas amarradas na grade em frente ao palco. Halloween perguntou se havia “muitos malucos por aí”. E entrou o tema “Zé Maluco” para fechar o concerto.
Mas o público não os deixou ir embora à primeira. Allen, os dois MC’s e o DJ voltaram ao palco para mais uma. Esta sim, era mesmo a última. “Bye bye, equipa”, despediu-se.