Bed Legs são do rock’n’roll, mas também do blues e de todos quantos os ouvem. A voz de Fernando Fernandes, marcada pelo soul, juntou-se à bateria de David Costa, ao baixo de Hélder Azevedo e à guitarra elétrica de Tiago Calçada, em 2011. Desde então, nunca estão satisfeitos, porque querem sempre mais.
“O vício, aquele bichinho”, como diz o baterista, levou a banda bracarense a produzir o primeiro álbum, Black Bottle, que será lançado, oficialmente, amanhã. Em entrevista, David Costa e Tiago Calçada contam como surgiu esta garrafa negra de rock “cru”.
ComUM: Como é que surgiram os Bed Legs?
Tiago Calçada: Eu, o David e o Hélder tínhamos uma banda nos tempos do secundário, mas entretanto fomos para a universidade. Passados uns largos anos, voltei para Braga e eles já tinham voltado a dar uns toques. Mas nada de sério. Convidaram-me e passamos a ter uma guitarra em cima daquilo que eles faziam. Depois, lembramo-nos de falar com o Fernando. Começamos, portanto, a ser os Bed Legs em novembro de 2011.
ComUM: Os Bed Legs ‘rockam’ ou são mais da onda do blues?
Tiago Calçada: Somos do rock, mas também temos algumas influências de blues e punk. Mas somos, sobretudo, uma banda de rock com um som cru.
ComUM: O que querem dizer, especificamente, com um “som cru”?
Tiago Calçada: Um som espesso onde não há grandes malabarismos. É direto e sucinto, porque surge de forma natural.
ComUM: Os Bed Legs são mais um grupo de amigos que gosta de tocar ou ambicionam mais?
David Costa: A banda é mais um passatempo. É uma paixoneta que nós temos. Somos uma banda de garagem, é esse o espirito. Vamos tocando e, à medida que os anos vão passando, vamos evoluindo. O som vai ganhando outras formas, mas as coisas vão acontecendo sem compromissos e sem expectativas muito altas.
ComUM: Portanto, nunca pensaram nos Bed Legs como uma banda profissional?
David Costa: Não. Talvez seja mais uma proteção. É preferível andar com expectativas baixas. A evolução tem acontecido passo a passo: não tínhamos uma banda e fizemos uma banda, começamos a ensaiar no sótão e tivemos que sair de lá por causa do barulho que fazíamos. Depois, andávamos a ‘cravar’ salas. Entretanto, tínhamos uns temas, os concertos apareceram e pensámos “porque não fazer um registo?”. Gravámos um EP e, este ano, um álbum. É levar as coisas na desportiva. O profissional também assusta um bocado.
ComUM: Como surgiu a ideia de lançar o primeiro álbum?
David Costa: Foi vício, aquele bichinho… mas também somos ambiciosos. Levamos tudo isto na boa, para não entrarmos em paranóias. Mas quando as coisas sabem bem, queremos sempre mais. Daí o Black Bottle.
ComUM: Qual a mensagem que procuram transmitir no álbum?
Tiago Calçada: As músicas têm que transmitir algo que nós ou alguém que está à nossa volta experiencia. Por isso, o álbum Black Bottle fala de situações que já aconteceram connosco ou que estão a acontecer agora ou até com pessoas amigas. Fala da juventude, da realidade, do dia-a-dia… Não é ficcional. Como diz o Fernando [vocalista da banda], o Black Bottle é quase um lamento.
ComUM: Conseguem ver diferenças entre o EP Not Bad, que lançaram em 2014, e o álbum que vão lançar amanhã?
Tiago Calçada: Claro que sim. O EP foi uma primeira experiência para todos enquanto banda. Mesmo a nível de composição, o EP foi quase um teste, um ensaio. Ao darmos concertos, a banda ganhou outra consistência e, a nível de composição, isso reflete-se no próprio som.
David Costa: Há algumas experiências que tivemos no EP que corrigimos agora no álbum. Não digo que o Black Bottle está perfeito. Mas, se gravasse outro álbum agora, já fazia muita coisa diferente. É uma questão de evolução, de chegar ao fim de um trabalho e sentirmos que conseguimos dar mais. Como o Camané diz: “Cada vez que gravo um álbum, chego ao fim e digo, porra, já fazia melhor”.
Tiago Calçada: Mau seria se chegássemos ao fim e sentíssemos que já demos tudo. O que faríamos depois? Uma banda, que diz já ter feito tudo, acaba! Mas isto não implica que não estejamos satisfeitos com o resultado final, porque estamos bastante orgulhosos.
ComUM: Tiveram algum apoio para lançar o Black Bottle?
Tiago Calçada: A nível de apoio monetário, o álbum foi pago inteiramente por nós. Tivemos alguns apoios depois do Black Bottle estar gravado, mas todo o processo de gravação foi fruto do nosso esforço e do nosso suor.
ComUM: Tendo em conta que o vosso primeiro álbum vai ser lançado oficialmente amanhã, o que esperam para 2016 enquanto Bed Legs?
Tiago Calçada: Dar muitos concertos. Acho que faz mais sentido ouvirem o álbum ao vivo.
Entrevista: Judite Rodrigues
Marta Alves