Helena Sousa, presidente do Instituto de Ciências Sociais e professora catedrática do Departamento das Ciências da Comunicação na Universidade do Minho, foi selecionada pelo Conselho da Europa para integrar o ‘Committee of experts on media pluralism and transparency of media ownership’ na qualidade de ‘especialista independente’.

Em entrevista ao ComUM, Helena Sousa fala-nos não só desta sua recente eleição como também dos desafios enfrentados, hoje em dia, pela área das Ciências Sociais.

Como vê a sua eleição para integrar o Council of Europe Committee of Experts on media pluralism and transparency of media ownership‏ na qualidade de especialista independente?

HS: Passei a integrar esta comissão na sequência de um processo de seleção. Trata-se de uma oportunidade que considero importante porque me permite contribuir para o desenvolvimento das políticas públicas da comunicação na Europa em áreas fundamentais tais como a transparência, pluralismo e a concentração mediática.

Quais são as suas expectativas para o trabalho a iniciar por este Comité? Qual é o grande objetivo a alcançar?

HS: Esta comissão irá, nos próximos dois anos, estudar as melhores práticas políticas dos Estados-Membros do Conselho da Europa relativas à defesa e à promoção do pluralismo mediático, da transparência da propriedade dos meios de comunicação social, da diversidade de conteúdos mediáticos, da inclusão nos meios de comunicação de serviço público e da igualdade de género na cobertura de campanhas eleitorais.

Tendo por base as normas europeias e a jurisprudência relevante do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, a Comissão vai preparar propostas de definição de normas sobre o pluralismo dos meios e a transparência da propriedade e vai ainda analisar os princípios e as regras relativas à cobertura mediática das eleições e o uso da Internet.

Na sua opinião, quais são, em termos gerais, os reais desafios que a área das Ciências Sociais enfrenta?

HS: As Ciências Sociais não são fundamentalmente diferentes das outras áreas científicas. Têm é lentes próprias e instrumentos específicos para procurar compreender a realidade social. O principal desafio é a compreensão, de modo profundo e abrangente, da realidade social que é hoje extraordinariamente complexa.

“Os jornalistas vivem hoje sob permanente pressão. Pressão para ser rentável. Pressão para fazer a cobertura de determinado acontecimento. Pressão para ouvir este ou aquele interlocutor…” (excerto retirado do livro Jornalista: uma profissão ameaçada, de Felisbela Lopes).  Acredita também que, atualmente, o jornalismo é uma profissão ameaçada?

HS: Considero que o jornalismo é, acima de tudo, uma profissão em mudança acelerada. A reconfiguração resulta de grandes desafios económicos, políticos, tecnológicos, sociais e éticos.

No que concerne à liberdade de imprensa, de que forma ela se encontra ameaçada nos dias de hoje?

HS: A liberdade nunca está conquistada. É uma luta permanente. A liberdade é um valor fundamental mas sistematicamente em tensão. Toda a vigilância é pouca e todos os esforços no sentido de a proteger são necessários e indispensáveis.

Relativamente ao desafio imposto ao mundo dos media no que toca ao pluralismo mediático, acredita que é ainda possível a constituição de uma esfera jornalística completamente isenta e plural?

HS: Julgo que a pluralidade de meios e de suportes é possível. A diversidade de conteúdos também, embora menos fácil do que a pluralidade de meios. Quanto à esfera jornalística completamente isenta, só pode ser um patamar, uma referência. Não existe isenção completa ou objetividade absoluta. Existe, no entanto, a procura da verdade e existem práticas jornalísticas que se regem por princípios deontológicos.

De que modo, podem os jornalistas de hoje fazerem face aos desafios que lhes são impostos na sua profissão? Isto é, quais são, na sua opinião, as possíveis alternativas e soluções para as ameaças enfrentadas pelo mundo jornalístico atual?

HS: O jornalismo nunca foi fácil e em vários momentos históricos e em várias geografias, o jornalismo acontece mesmo com níveis reduzidos de liberdade. Em Portugal, com todas as fragilidades do nosso sistema democrático, não podemos dizer que não vivemos numa sociedade plural. Cada jornalista terá que procurar no contexto concreto em que se insere o seu espaço de respiração para a realização de um trabalho digno. Os editores e a direção dos órgãos de comunicação social têm especiais responsabilidades e cabe-lhes responder à altura das necessidades sociais. Mas os cidadãos têm que exigir uma informação de qualidade e precisam de compreender que produzir informação de qualidade implica custos. É um ciclo que precisa de ser cuidado…

Por último, e tendo em conta todo este panorama, que conselho gostaria de deixar a futuros profissionais desta área?

HS: As aprendizagens mais importantes não resultam de conselhos mas das descobertas que vamos fazendo no dia-a-dia em contacto direto e concreto com a realidade. Cada um de vós fará o seu caminho. O que me parece essencial é que, quando olharmos para trás, não tenhamos feito nada que – em consciência – nos envergonhe. No jornalismo, como em todas as profissões, a integridade é uma linha difícil mas é a única que nos pode realizar. Se não for possível ser íntegro no exercício do jornalismo, está na hora de mudar de profissão.