O desporto é um fenómeno único e motiva verdadeiros exemplos de paixão. Por vezes, torna-se mesmo um modo de vida. É difícil explicar quando nasce esse sentimento em relação a um clube, mas quando se entranha, fica lá para toda a vida. Nas vitórias ou nas derrotas, com mais ou menos fulgor, a fidelidade está sempre presente.

Quem gosta de desporto, provavelmente cresceu com o sonho de um dia chegar a jogar ou a treinar o clube do coração. De marcar o golo ou o ponto de uma grande conquista. De ser o herói que defende uma grande penalidade no último minuto, ou o “homem do leme” na orientação da equipa. Eu próprio ainda vou acalentando esse sonho.

No entanto, são poucos aqueles que o conseguem fazer. Numa era em que as modalidades começam a estar mais viradas para fatores como a orientação ao lucro e a profissionalização, jogadores e treinadores acabam por desenvolver relações mais curtas com os clubes por onde passam, sendo cada vez mais raro encontrar casos de “amor à camisola”.

Felizmente ainda os há, e o Minho é um bom exemplo disso. Há cerca de dois meses, Sérgio Conceição surpreendeu tudo e todos, ao substituir o guarda-redes Douglas por Miguel Silva, jovem de apenas 20 anos que militava na equipa B. O “menino” correspondeu à chamada, agarrando a titularidade na baliza dos vimaranenses.

Adepto ferrenho do Vitória, Miguel Silva vive intensamente os jogos, não despindo a pele de fã. Durante os desafios, é comum observarmos o guardião a entoar os cânticos da turma vitoriana, mas também é possível vê-lo a pegar no megafone e a liderar a claque, no final dos 90 minutos.

 

A paixão de Miguel é um dos bons exemplos de amor ao clube, numa cidade de Guimarães que vive o Vitória de uma forma muito especial. Mas não é caso único na região. Em Braga, a devoção aos “Guerreiros do Minho” tem vindo a crescer, num emblema que cada vez mais vai mordendo os calcanhares dos “três grandes” portugueses.

No campo, os bracarenses também têm referências. Certamente, ninguém esquece a forma como o antigo guarda-redes Pli vivia os jogos da equipa de futsal do Braga/AAUM. Aguerrido, o guardião protagonizava um espetáculo à parte nos desafios da equipa minhota, sofrendo intensamente durante os encontros do seu clube de coração.

Se em Braga e Guimarães vemos apoiantes fervorosos, na cidade do “galo” podemos dizer o mesmo. O Óquei de Barcelos respira saúde, encontrando-se na terceira posição do campeonato e com o apuramento garantido para os quartos-de-final da Taça CERS. Para o sucesso da turma minhota, muito tem contribuído o apoio dos adeptos, que voltaram a encher o pavilhão, recriando o ambiente quente dos tempos áureos da formação barcelense.

Mas nestas coisas da paixão e do amor, há quem seja mais discreto e não dê tanto nas vistas. Fernando Sá, treinador do basquetebol do Vitória há quase uma década, Humberto Gomes, veterano guarda-redes do ABC/UMinho responsável pela defesa do livre de sete metros que resultou na conquista da última Taça de Portugal, e Nélson Brízida, experiente capitão do voleibol dos “Conquistadores”, são alguns dos excelentes exemplos de dedicação nas equipas minhotas.

A época ainda vai no adro e as formações do Minho têm muito caminho para percorrer. É impossível sabermos se todos os objetivos vão ser concretizados – provavelmente não -, mas, independentemente disso, a paixão continua a morar por aqui.