O Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, é palco da 6ª edição do festival internacional de dança contemporânea GUIdance até ao dia 13 de fevereiro.

Para a bailarina e embaixadora do festival vimaranense, Leonor Keil, os dançarinos, peças de uma “linguagem complexa e abstrata”, juntam-se para criar uma “personalidade” em cada espetáculo do GUIdance.

Em entrevista, embaixadora do festival fala dos objetivos que estão por detrás desta iniciativa, das dificuldades de ser artista em Portugal e da situação atual da dança no panorama nacional.

ComUM: O que torna especial a dança contemporânea?

Leonor Keil: É a individualidade de cada criador, de cada coreógrafo, e a capacidade de colocar o seu cunho pessoal na coreografia. A dança contemporânea é uma linguagem. Por sua vez, o clássico é muito técnico, onde existem fórmulas e regras, quase como a matemática, que se podem conjugar. No contemporâneo, essas regras são muito mais abertas. É possível a cada criador explorar caminhos novos.

ComUM: Qual a importância do GUIdance e  quais os objetivos do festival?

Leonor Keil: Primeiramente, é importante haver festivais de dança, porque ainda é uma área com muito ‘mato’ a ‘desbravar’ e muito terreno a conquistar. A dança é uma arte muito abstrata. Embora para os dançarinos, quando estão a dançar, sabem muito bem aquilo que estão a querer dizer, para o público é difícil perceber. Portanto, o GUIdance procura, através de uma mistura de gerações de criadores, permitir ao público ter sensações. Um espetáculo não é só para sairmos de lá bem-dispostos, mas serve também para nos questionarmos.

ComUM: Porquê situar o festival em Guimarães?

Leonor Keil: Porque foi aí que surgiu a ideia, há seis anos atrás.

ComUM: Como embaixadora nacional da dança, como vê o panorama português na área da dança contemporânea? Acha que tem qualidade e pode até competir com o panorama internacional?

Leonor Keil: O termo “competir” não me parece que seja muito simpático, porque acho que nas artes não existe competição. Existe de facto um explorar e isso não é algo que se possa medir entre ser melhor ou ser pior. Mas acho que a dança portuguesa tem muita personalidade, bons criadores, bons criativos e bons intérpretes e, neste sentido, está a evoluir muito. É pena que o próprio país não ajude os bailarinos, não os apoie assim tanto. Não existe um apoio à cultura como existem noutros países, como na França, Bélgica, Alemanha. Vê-se logo pelos próprios subsídios em que cada vez que há cortes e sempre se aperta o cinto, a primeira coisa a ser cortada é a cultura.

ComUM: Em Portugal, há futuro para a dança?

Leonor Keil: Sim. Os bailarinos estão cá [em Portugal] para mostrar isto. São muito teimosos. Aqueles que vão para as artes são pessoas que têm a arte dentro de si. Por isso, fazem sacrifícios e lutam. Sejam Intérpretes, criadores, sonoplastas, não desistem, mas ficam tristes. Agora, os bailarinos não estão a passar um bom tempo. Está difícil.

ComUM: Como vê a reação do público quando se encontra face a este registo de dança, a dança contemporânea?

Leonor Keil: Depende da cidade e da dinâmica do teatro, como conseguem sensibilizar o público para que o espetáculo seja curioso e que se mantenha fiel. Uma pessoa que não tenha educação ou conhecimento sobre espetáculos de dança têm dificuldade em compreender, porque esta pode ser complicada por ser abstrata e não ter palavras. No entanto, a partir do momento em que o público vê um espetáculo, há algo que lhes suscita criatividade.

ComUM: O GUIdance vai na 6ª edição. Posto isto, o público tem interesse neste festival e neste tipo de arte ou surge mais da vontade dos dançarinos integrantes?

Leonor Keil: Acho que estão no mesmo bolo. Os bailarinos querem mostrar o trabalho que fazem, porque passam meses no estúdio a experimentar coisas que depois só se tiver público é que sabe se aquilo funciona ou não.

Entrevista: Carolina Ribeiro

Inês Paredes