Pedro Mexia foi o orador do debate relacionado com poesia que decorreu na Biblioteca Municipal de Aveiro, nas Comemorações do Dia Mundial da Poesia, no passado dia 21. Durante o debate, falou sobre a profissionalização do poeta, considerando que “infelizmente, ser poeta não é uma profissão” e afirmando que a grande maioria dos autores portugueses, para além de escritor, tem sempre outra profissão.

Quando questionado pelo moderador sobre o que considera ser a poesia, o poeta respondeu que veio de um tempo em que a poesia era essencialmente prosaísta, direta e simples, onde se aderia ao facilitismo para se expressar algo. Mexia é apologista da vertente em que a poesia se mistura com a fala: “a função da poesia é aproximar-se da fala, mas nem todos apreciam isto”.

O poeta desenvolveu o tema explicando que entender um poema é diferente de entender um romance. Não é necessário fazer uma sinopse de um poema, pois a poesia é escassa em objetividade. “Acho que não é preciso entender um poema para gostar dele”, afirmou, acrescentando que valoriza as diferentes interpretações que os leitores fazem dos seus poemas, sem contrariar nenhuma delas.

“A poesia é como um bispo”, comentou Pedro Mexia aquando da pergunta do moderador relativamente à posição da poesia nos dias de hoje. Explicou que a literatura em geral ocupa um lugar de grande prestígio social, como uma figura de grande importância mas com a qual poucas pessoas se identificam. “É um paradoxo”, assegurou. A poesia é vista como algo de grande valor mas não atrai massas populacionais no que toca ao “consumo” e interesse.

Considerou também que o sentir e o sofrer andam “de mãos dadas” com o ato de escrever. “Não conheço muitas pessoas que escrevam sem ter um passado de grande sofrimento”, elucidou. Para desenvolver este tópico, citou um poema em que referia que a arte de fazer poesia resulta de uma “emoção recordada com tranquilidade”. “Um poema só vale a pena se uma pessoa se identificar com ele”, concluiu Pedro Mexias, tendo em consideração que a empatia do leitor é essencial numa obra poética.

Pedro Mexia, natural de Lisboa e licenciado em Direito na Universidade Católica Portuguesa, é escritor, poeta e crítico. Participa no programa televisivo “Governo Sombra” e escreve no semanário Expresso. Conta já com seis livros de poesia publicados, presentes na antologia publicada em 2011, “Menos por Menos”. Em 2015, lançou a sua coletânea de poemas originais desde 2007 – “Uma vez que tudo se perdeu”.

Com influências de T.S. Eliot, Cesário Verde, Álvaro de Campos e outros escritores estrangeiros, Pedro Mexia começou a escrever com 16 anos. Ainda no debate, leu um poema recente – “Há nomes que ficam” -, sobre nomes anotados em agendas telefónicas que caíram em esquecimento. O debate deu-se por finalizado com a declamação de poemas do autor por parte do público.