Alfred Enoch já tinha experiência a lidar com professores invulgares e os seus métodos alternativos, desde Severus Snape, Dolores Humbridge, Gilfred Lockhart e até mesmo Quirrell com o Voldemort escondido no seu turbante. Ainda assim nada o preparou para o furacão que é Annalise Keating e para a sua cadeira, Direito Criminal, ou como esta gosta de lhe chamar How To Get Away With Murder.

A primeira temporada elevou a fasquia a um ponto tão alto que, quando esta terminou, espalharam-se dúvidas sobre se a série conseguiria manter o mesmo ritmo. O decorrer da mesma permite-nos delinear a fórmula da série: temos dois grandes crimes que ocupam toda a temporada (no caso da primeira temporada o assassinato de Lila e de Sam), e para honrar o conceito de ‘série’ temos outros clientes defendidos pela equipa de Keating cujos casos costumam durar apenas um episódio. Os dois crimes que predominam são construídos através de analepses e prolepses. Esta técnica culmina no ‘season finale’ onde várias analepses desvendam os mistérios que estavam bem escondidos. Finalmente, quando pela primeira vez, na maior das inocências, sentimos que percebemos de facto o que se está a passar… algo muda e voltamos à nossa ignorância. Depois seguem-se sete meses de especulação sobre a direção que a série irá tomar na segunda temporada.

A segunda temporada arranca em força. O primeiro episódio, bem ao estilo The Walking Dead, concentra toda a ação nos últimos minutos. De facto a informação é tanta que eu revi os últimos minutos só para ter a certeza que vi bem. A equipa técnica foi ambiciosa. O enredo está cada vez mais complexo. As personagens principais afastam-se do domínio de Annalise, abrindo espaço para as conhecermos melhor individualmente, explorarmos as suas histórias e ainda criarem-se relações entre as várias personagens, sendo o melhor exemplo disso a investigação guiada por Wes e Nate.

Há tanta coisa a acontecer na segunda temporada, que será difícil manter a coerência sendo esse, com certeza, um desafio para os guionistas. Vemos, pela primeira vez, Annalise a perder gradualmente o controlo ao mesmo tempo que o caos aumenta. O ‘climax’ do “mid-season finale” é atingido com uma atuação de Viola Davis merecedora de um Emmy, na qual ela tenta, mais uma vez, reparar tudo. Desta vez a estabilidade emocional de Annalise e de quem a rodeia é uma suscetibilidade. Este ambiente leva a que haja falhas, e a que os três princípios de como sair impune com um homicídio sejam aplicados de forma desleixada, deixando-nos céticos quanto à possibilidade do plano de Annalise, elaborado em bom português “às três pancadas”, tenha a mínima hipótese de ser bem sucedido.

MATT MCGORRY, KARLA SOUZA, AJA NAOMI KING, ALFRED ENOCH, JACK FALAHEE, VIOLA DAVIS, LIZA WEIL, BILLY BROWN, CHARLIE WEBER

Peter Nowalk, criador da série, organizou os acontecimentos de forma meritória. Ele dá pistas suficientes para que criemos as nossas próprias teorias, mas mantem sempre a realidade bem escondida até ao momento certo. Com um número considerável de plot twists, o cruzamento entre vários casos e histórias pessoais das personagens, o enredo da segunda temporada é, para os guionistas, uma autêntica corda bamba. Basta um passo em falso para a história perder o sentido. Este será o desafio da segunda parte da temporada: manter a lógica no meio do caos que tem vindo a caracterizar a série.